Torres é um município brasileiro situado no extremo norte do litoral atlântico do estado do Rio Grande do Sul. A paisagem da cidade se destaca por ser a única região praiana do Rio Grande do Sul em que sobressaem paredões rochosos à beira-mar, e por ter à sua frente a única ilha marítima do estado, a Ilha dos Lobos.
A área onde hoje se encontra a cidade tem sido habitada pelo homem desde há milhares de anos, existindo testemunhos físicos na forma de sambaquis e outros achados arqueológicos. No século XVII, durante a colonização do Brasil pelos portugueses, por estar encravado em um estreitamento da planície costeira sulina, o local passou a se constituir rota de passagem obrigatória para os tropeiros e outros desbravadores e aventureiros luso-brasileiros vindos do norte pelo litoral - a única outra passagem que havia então era por cima do planalto de Vacaria - e que buscavam os rebanhos livres de gado que se multiplicavam no pampa mais ao sul e caçavam os indígenas para fazê-los escravos. Muitos acabaram por se fixar na região e se tornaram estancieiros e pequenos agricultores. E por dispor de morros junto à praia, logo foi reconhecido seu valor estratégico como ponto de observação e controle de passagem, de importância militar e política no processo de expansão do território português sobre o espanhol. Foi fundada ali na última quadra do século XVIII uma fortificação, que entretanto logo foi desmantelada quando a conquista se efetivou.
A construção da Igreja de São Domingos no início do século XIX atraiu para seu entorno muitos dos residentes dispersos na região, estruturando-se desta forma um povoado. Sua evolução ao longo deste século, porém, foi morosa, mesmo tendo recebido levas de imigrantes alemães e italianos, sobrevivendo numa economia basicamente de subsistência. A expansão econômica, social e urbana só aconteceu a partir do início do século XX, quando em vista de sua bela paisagem, clima ameno e boas praias de banho, o potencial turístico da cidade foi descoberto e passou a ser explorado. Desde então cresceu com mais vigor e celeridade, chegando hoje a se tornar uma das praias mais procuradas do estado, recebendo no verão um público flutuante mensal de 200.000 pessoas, muitas delas estrangeiras, vindas principalmente dos países do Prata. Isso contrasta com as dimensões de sua população fixa. Não por isso deixou de desenvolver uma economia consistente e boa infraestrutura para atender a esta demanda turística, sua fonte principal de renda.
Enquanto o turismo trouxe progresso e crescimento, tornando a cidade um polo estadual para eventos, festas, competições esportivas, espetáculos e outras atrações, trouxe também sérios problemas para o meio ambiente e a cultura tradicional. Antes coberta pela Mata Atlântica, de biodiversidade especialmente rica pela variedade de ambientes criados pela geografia complexa da área, hoje tem este patrimônio natural severamente ameaçado e muito reduzido, com poucas áreas preservadas, já tendo perdido muitas espécies e estando outras tantas em perigo.
História
Pré-história
A região de Torres, cidade litorânea do estado brasileiro do Rio Grande do Sul, vem sendo habitada pelo homem há milhares de anos. Os primeiros a percorrê-la foram grupos de caçadores-coletores-pescadores oriundos do norte do continente, e que deixaram diversos vestígios na região sob a forma de sambaquis, grandes montes artificiais de conchas onde são encontrados frequentemente sepulturas humanas e objetos de pedra e osso como machados, pesos de redes, anzóis, pontas de flechas e esculturas representando aves, peixes, cetáceos, quadrúpedes e raros antropomorfos, além de outros artefatos. Estas populações acabaram, durante o Neolítico, por iniciar um processo de fixação no local, adaptando-se para um modelo sedentário, domesticando plantas como o milho, amendoim, tabaco, pimenta e batata para cultivo e se tornando agricultores. Desta fase também são encontrados vestígios de índios da chamada Cultura Taquara, agricultores do planalto que vinham ao litoral sazonalmente para pescar e coletar moluscos, a fim de complementarem sua dieta, fazendo acampamentos em zonas limítrofes entre a restinga e as dunas. Mais ou menos na mesma época a região passou por uma nova onda migratória, desta vez composta pelos guaranis, cuja cultura era mais complexa e cujos relictos são mais complexos, incluindo cerâmicas e objetos rituais, além de se supor que tivessem já desenvolvido também a cestaria, a arte plumária e a tecelagem.
Colonização portuguesa
A geografia da área de Torres é singular. Estando numa longa planície litorânea que vai de Laguna até depois do Chuí, uma das mais extensas praias arenosas contínuas do mundo, salienta-se nesta paisagem por ser possuidora dos únicos afloramentos rochosos à beira-mar, as chamadas "torres" de basalto vulcânico que lhe deram o nome. Neste local, além disso, a planície costeira, que ao norte e sul é mais larga, se afunila, o que fez deste ponto uma rota de passagem obrigatória para todos os que não quisessem transpor entre sul e norte tendo de percorrer os planaltos da Serra Geral. Os índios em suas movimentações já haviam percebido que Torres era um caminho natural, e haviam aberto picadas por ali antes de os portugueses chegarem.
A colonização da área pelo homem branco iniciou não muito depois da Descoberta do Brasil em 1500. Uma carta de 1639 do rei Filipe IV de Espanha ao vice-rei do Peru Marquês de Mancera diz que desde tempos antes os paulistas vinham avançando sobre o litoral sul do Brasil. As trilhas abertas pelos índios se tornaram o caminho usado pelos portugueses ao longo do século século XVII, vindos do norte, para irem pouco a pouco se apossando de um território que pela lei da época pertencia à Espanha, por força do Tratado de Tordesilhas - a parte portuguesa encerrava na altura de Laguna, em Santa Catarina, bem mais ao norte. Uma crônica de Jerônimo Rodrigues narra que ali era a fronteira da nação indígena ibirajara, que dominava até o Rio Mampituba, tendo os patos ou carijós ao norte, mas que estavam sempre incursionando uns em terras de outros.
Entre os pioneiros brancos que se aventuraram por aquelas paragens estavam caçadores de escravos, que vinham em busca de índios, e tropeiros que vinham arrebanhar o gado que se multiplicava livre no pampa. E Portugal ignorando os tratados permanecia avançando sobre terras da Espanha. Depois da fundação de Rio Grande em 1737 na barra da Lagoa dos Patos, no litoral sul do estado, os portugueses fundaram um registro militar na altura de Imbé em 1738. Porém, este não dava conta do controle de toda a área até a Serra, e se viu necessária a posse do estreitamento da planície costeira mais para o norte, onde Torres iria nascer. O primeiro local escolhido foi as pedras de Itapeva, cerca de 60 km ao norte de Imbé, criando-se outra guarnição militar, mas a qual, da mesma forma, se mostrou insuficiente, ainda não cobrindo uma última picada pela qual os contrabandistas de gado podiam passar sem ser vistos. No fim do século XVII já era registrada a presença de alguns residentes luso-brasileiros dispersos por esta região.
A partir de 1761 é registrada a concessão de algumas sesmarias entre Itapeva e o Rio Mampituba, fixando novos colonos. Em 1777 foi erguida no flanco oriental do Morro das Furnas uma bateria com dois canhões, chamada de Forte de São Diogo das Torres, com o objetivo expresso de controlar os espanhóis que nesta altura haviam dominado a Ilha de Santa Catarina e ameaçavam avançar para o sul. O local foi escolhido por proporcionar uma visão elevada e desobstruída em um largo círculo. Porém, diante do armistício, o forte foi abandonado, mas o valor estratégico deste ponto continuou sendo reconhecido e aproveitado. Por isso, o tenente-general Sebastião Xavier da Câmara, governador da Capitania do Rio Grande de São Pedro, mandou o engenheiro José de Saldanha erguer em 1797 uma nova guarda e registro militar para controle e pedágio da passagem terrestre, com duas peças de calibre 4 e um destacamento de soldados. O forte era apenas uma guarnição de madeira e palha, com uma casinha de pedra e telha para abrigar a pólvora. Em 1801 assumiu o comando da guarnição o alferes Manuel Ferreira Porto, considerado o fundador da cidade. Com a criação dos primeiros municípios da capitania, em 1809, esta área recaiu sob a jurisdição de Santo Antônio da Patrulha, tornando-se o Distrito das Torres.
Início da urbanização
Não há mais notícia do local até 1815, quando por ali passou o Bispo do Rio de Janeiro, Dom José Caetano da Silva Coutinho, cuja diocese se estendia até esta capitania. A pedido de alguns rancheiros da região, autorizou a ereção de uma capela. Em 1818, por despacho do Marquês de Alegrete, foi concedida uma área de 150 braças quadradas para formação de um povoado e construção do templo, que entretanto iniciou e logo parou pela extrema pobreza e desunião dos locais. O ano seguinte marca a chegada do brigadeiro Francisco de Paula Soares de Gusmão, enviado pelo Conde da Figueira, governador da capitania, para reforçar a fortificação, que já estava novamente em ruínas, e inspecionar a barra do Rio Mampituba e o litoral norte, para verificar se por ali podiam se desembarcar invasores espanhóis. Francisco fez como ordenado, e concluiu que um desembarque era impossível, dada a ausência de um porto natural e por ser um litoral perigoso para navegação. A ameaça espanhola que voltara a assombrar os lusos no fim não se materializou, e o forte deixou de ter razão de ser. Francisco recebeu ordem de se retirar para a capital, mas percebendo a boa posição geográfica do lugar e seu potencial econômico como passagem muito frequentada para a Capitania de Santa Catarina, pediu para ficar e assentar definitivamente a desejada capela para socorro espiritual de muitos em uma área de 40 léguas em torno, que precisavam se deslocar até Osório ou Laguna para o culto. Aprovada a solicitação, o conde mandou, em 1820, iniciar à "Povoação das Torres" com algumas índias de Taquarembó. Francisco de Paula as tomou e fez que casassem com brancos, e fossem morar num arraial erguido às margens da Lagoa do Violão. Logo deu início às obras da capela, e antes que ela se concluísse mandou vir para capelão o padre Marcelino Lopes Falcão. No Natal de 1820 foi ouvida a primeira missa.
Em meados do mesmo ano a visitara o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, que deixou vívido relato da paisagem, da natureza e da vida dos residentes. Ao chegar encontrara o alferes Porto comandando cerca de 30 escravos índios a trabalharem nas estruturas do forte. Em Itapeva pernoitou num casebre de treliça de estacas e folhas de palmeira, "sem porta e (com) um quarto desprovido de janela e mobiliário, onde a roupa branca e o vestuário de toda a família são estendidos sobre traves". Em contraste com a pobreza da habitação, a senhora usava um traje elegante e os cabelos penteados com gosto.
Entretanto, Francisco disse que o comando militar passou para o alferes Porto somente no ano seguinte, e então a atividade teria esmorecido. Proclamada a Independência, passando por ali em 1824 o novo governante da ora Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, o Visconde de São Leopoldo, percebendo as potencialidades do sítio e reconhecendo o bom trabalho anterior de Francisco de Paula, voltou a encarregá-lo do povoamento e finalização da capela, o que ocorreu em 1825, quando foi elevada a capela curada. A capela, atualmente conhecida pelo nome de Igreja de São Domingos, se tornou um chamariz para várias outras famílias que já estavam por ali arranchadas, crescendo o povoado em seu redor, que em quatro anos já tinha passado de 1.000 habitantes. Francisco de Paula, na correspondência que deixou, se revela um entusiasta pelo projeto, ajudando novos moradores a se estabelecerem, abrindo ruas, instalando fontes, criando um cemitério, casa paroquial, presídio e outras benfeitorias, muitas vezes às suas próprias custas, além de solicitar ao governo da capitania que enviasse outros recursos humanos e materiais. Já nesta época começou a imaginar a construção de um porto e regularização da barra do Mampituba.
Em 1826 a Câmara de Santo Antônio da Patrulha iniciou a instalação de mais de cem famílias de imigrantes alemães, protestantes nas colônias de Três Forquilhas e católicos em São Pedro de Alcântara, a poucas léguas para o interior do núcleo inicial do Povoado das Torres. Um viajante alemão em passagem, Carl Seidler, contudo, disse que a distribuição dos lotes foi desigual, os católicos recebendo os melhores, o que causava frequente atrito com os protestantes. Disse mais, que a região ainda era assolada por índios, que matavam gente e causavam destruições, com a consequência de a população decrescer em vez de aumentar.
Apesar das visões positivas de Francisco, sabe-se que a sobrevivência do povoado era precária, agravada por frequentes desentendimentos entre os locais e a Câmara de Santo Antônio por causa de impostos excessivos, interditos arbitrários sobre a pesca, divisão irregular de terras e outras disputas, e pela eclosão da Guerra dos Farrapos em 1835, que criou uma situação de penúria e tumulto, sendo alternadamente ocupada por forças imperiais e farroupilhas. Em pleno conflito, em 1837 foi elevada a Freguesia com o nome de Freguesia de São Domingos das Torres.
Os relatórios oficiais da época são repletos de queixas pelas más condições gerais e de súplicas por envio de ajuda da capital. Em 1846 havia apenas 187 proprietários registrados na cidade e menos de 150 eleitores. A soma desses fatores acabou por levar à emancipação em 1857 do então Distrito de Conceição do Arroio, hoje Osório, separando-se de Santo Antônio e incorporando a si o Distrito das Torres. Nesta altura a navegação interna pela rede de lagoas e canais da região começava a se tornar mais intensa, criando uma ligação entre o litoral norte e Porto Alegre por onde passavam pessoas e bens. Vários deputados e administradores locais tentaram promover o progresso, havia na prática um consenso de que a região tinha um grande potencial ainda inaproveitado, mas embora algumas melhorias fossem conseguidas, a própria Província não era rica e pouco pôde fazer, e as queixas de pobreza continuaram.
A situação de estagnação social, cultural, urbana e econômica se prolongou até o início do século XX, chegando a surpreender que o povoado tenha sido erigido, num mesmo ato de 1878, a Vila, e em seguida a Cidade. Natural que perdesse o maior status, sendo reanexada a Osório. Voltou a ser município só em 1890. A Proclamação da República trouxe principalmente agitação política para a cidade, que teve diversos administradores se sucedendo em curto espaço. Outro sobressalto foi a Revolução Federalista de 1893, servindo de passagem para tropas. No mesmo ano começaram a chegar, descendo a Serra, famílias de imigrantes italianos que não conseguiram se fixar na região de Caxias do Sul. E a riqueza para a população continuava a ser coisa desconhecida. O resumo dos cerca de trinta inventários deixados por defuntos entre 1896 e 1898 indica que naquele tempo quase metade das famílias ainda não dispunha de uma mesa de refeições em suas casas.
Progresso
Em 1892 a ideia do porto em Torres voltava a ganhar alento. Iniciou-se a construção de um molhes na Praia da Guarita, para abrigar navios que viriam trazer material de construção para o porto verdadeiro. As pedras para o molhes saíram dos próprios morros vizinhos, explodidos com dinamite (os rombos ainda são visíveis), mas em breve o projeto foi abandonado, com apenas 50m de um molhe construído. Na virada para o século XX Torres começou a se tornar notícia frequente nos jornais da capital (mais de trezentas notas entre 1895 e 1912), e a tônica dos debates era o aproveitamento dos canais e lagoas para navegação interna, bem como a velha ideia de construção de um porto; falava-se também na construção de uma ferrovia. Essas obras deveriam certamente acelerar seu crescimento, mas não se realizaram como o esperado. A solução para o atraso socioeconômico e cultural veio de outra parte, quase casualmente.
Na mesma época o Brasil procurava se modernizar, e olhava para a Europa em busca de modelos de civilização; assim, entre outras tendências imitadas começou a se notar a adoção pelas elites do conceito europeu de férias e da moda dos banhos de mar, considerados terapêuticos, e com isso começaram a chegar em 1910 os primeiros veranistas, vindos do planalto gaúcho e de Porto Alegre. Mas ainda não havia boas estradas, e a viagem, que durava de três a quatro dias, era um empreendimento trabalhoso, ocorrendo geralmente em carretas ou lombo de mulas e sendo necessário levar comida e outros bens para um conforto mínimo, pois nenhuma estrutura especial para receber esses visitantes ainda fora desenvolvida. Esses veranistas pioneiros geralmente acampavam à beira-mar, ou se hospedavam em uma das pobres pensões do local. Seus costumes eram espartanos, e como relatou Mário de Freitas, os homens assim que chegavam adquiriam um pijama, um par de tamancos, um chapéu de palha de butiá e uma bengala de pau entalhado típica da região. As mulheres usavam de regra apenas um robe de chitão ou opalina, calçando chinelos ou sandálias. Os banhos eram tomados bem cedo, seguindo uma ritualística própria de acordo com as ideias médicas da época, recebendo o banhista somente um número de ondas pré-determinado, o que era repetido por nove banhos, quando o "tratamento" era dado por encerrado.
Dentre as personalidades que deram forte impulso ao desenvolvimento de Torres, destaca-se quem primeiro percebeu e decidiu explorar o potencial para o turismo da cidade: José Antônio Picoral. Filho da colônia São Pedro de Alcântara, tornou-se próspero comerciante em Porto Alegre, mantendo, porém, vínculo com a terra de origem. Depois de um frustrante veraneio em Tramandaí, Picoral imaginou transformar Torres em uma moderna estação balneária e, em 1915, após entendimentos com João Pacheco de Freitas, Luiz André Maggi, Carlos Voges e outros torrienses, instalou seu Balneário Picoral, cuja sede a princípio foi o Hotel Voges, logo chamado Hotel Picoral, marco histórico da introdução do turismo em Torres e o maior empreendimento turístico do estado até então. Tinha grandes pavilhões para atividades coletivas como refeições e festas, e uma série de chalés para dormitório, organizados num quarteirão que focalizou a movimentação social de seu tempo e criou em seu redor a "zona nobre" da cidade, inaugurando um promissor caminho econômico alternativo pelo qual a cidade pôde enfim crescer.
O hábito do verão à beira-mar pouco a pouco se difundiu, e a partir da década de 1920 Torres acabou por ser conhecida pelos riograndenses como um local da moda. A instalação de uma linha de ônibus Torres-Capital tornou as coisas apenas um pouco mais fáceis para os veranistas, pois as estradas ainda não passavam de picadas esburacadas e sujeitas a alagamentos. Sobrevivem crônicas bem-humoradas sobre os passageiros sendo obrigados a empurrar o ônibus atolado no barro e juntas de mulas ou bois a tentar mover o veículo. Isso não parecia incomodá-los. Conforme dizem os relatos, era para eles tudo uma grande e divertida aventura, sabendo que logo estariam desfrutando de momentos de descontração na beira da praia, junto de amigos e parentes.
Esses novos visitantes trouxeram outros com eles, e mais outros, e a cidade começava a mudar seu perfil urbano, aparecendo pensões, outros hotéis como o Farol e o Sartori, mercados, abrindo-se ruas e se multiplicando as casas de verão. O Balneário Picoral vai então se tornar o centro de encontro de políticos e ricaços do estado, além de organizar em seus salões saraus literários, bailes elegantes e recitais de música. E logo diversos ilustres passaram a comprar terrenos para construir chalés de veraneio requintados, como Borges de Medeiros, Protásio Alves, Possidônio Cunha, Firmino Torely e muitos outros.
Cardoso diz que nesta fase se consolidou a vocação turística da cidade, ao mesmo tempo em que passava a ser vista como um local civilizado, cuja natureza já estava domesticada e posta a serviço do homem, especialmente pelo incentivo de médicos famosos da época, como o próprio Protásio Alves, sempre lembrando os benefícios do contato com o mar e a praia. Mas desde os primeiros momentos dessa elevação a um novo status, Torres já começou a assumir uma identidade peculiar como cidade de veraneio, o que torna as coisas todas muito movimentadas em três meses do ano, enquanto no restante a diminuição do número de pessoas presentes e atividades é marcante. Outra transformação foi o gradual afastamento dos agricultores e pescadores locais da participação integral nesse processo civilizador, construindo-se espaços de socialização e moradia bem diferenciados e exclusivos. Muitos desses nativos, durante o verão, deixavam suas lides habituais e se dedicavam a servir a elite que chegava como faxineiros, babás, cavalariços, cozinheiros, jardineiros, ou empregados nos vários hotéis que iam surgindo. Ao mesmo tempo, por causa desses grupos de forasteiros, a maioria se conhecendo mutuamente e se frequentando, a praia começou a assumir um perfil familiar. Nesse processo de "tomada de posse" e transformação da cidade pelos veranistas, em 1936, no "salão nobre" do Balneário Picoral, várias personalidades se reuniram para criar a Sociedade dos Amigos da Praia de Torres (SAPT). A SAPT efetivamente se tornou daí em diante uma força decisiva na determinação dos rumos da cidade.
Na década de 1950, com estradas melhoradas, o progresso começou a chegar mais rápido.
As décadas seguintes só viram a confirmação de Torres como cidade turística de economia sazonal, ao mesmo tempo em que seus distritos iniciavam a se tornar mais dinâmicos, organizando-se em núcleos urbanos mais ou menos autossuficientes. Essa tendência acabou por levar diversos deles à emancipação. Em 1988 separaram-se Três Cachoeiras e Arroio do Sal; em 1992, Três Forquilhas e Morrinhos do Sul.
Torres se desenvolveu nas últimas décadas e continua a manter seu prestígio como umas das mais concorridas praias do estado do Rio Grande do Sul, mas passou a experimentar dificuldades típicas do processo de desenvolvimento, tais como o descontrole na ocupação do espaço, degradação do meio ambiente e formação de bolsões de pobreza.
Entre as preocupações atuais da administração pública estão solucionar esses problemas através de um modelo de gestão sustentável, chamando à participação as classes antes excluídas, preservando também a memória e o patrimônio histórico e cultural, fomentando as artes, e procurando romper o esquema da sazonalidade, a fim de diversificar a economia e equilibrá-la ao longo de todo o ano.
Geografia
Torres pertence à Mesorregião Metropolitana de Porto Alegre e à Microrregião de Osório. Localiza-se a uma latitude 29º20'34" sul e a uma longitude 49º43'39" oeste, estando a uma altitude de 16 metros. Possui uma área de 264,5 km². Dista 197 km de Porto Alegre e 280 km de Florianópolis. Seus limites são o município de Passo de Torres (SC), ao norte, Arroio do Sal, ao sul, Mampituba, Dom Pedro de Alcântara e Morrinhos do Sul, a oeste, e o oceano Atlântico a leste.
Geologia e hidrografia
A cidade está localizada no litoral sul do Brasil, caracterizado por uma ampla planície costeira que vai do Cabo de Santa Marta em Santa Catarina até a Barra do Chuí, no Rio Grande do Sul, uma das mais extensas e contínuas praias arenosas conhecidas. O trecho é pontilhado por um complexo sistema de barreiras arenosas quartzíticas que delimitam uma série de lagos e lagunas rasos e canais, como as lagoas Itapeva, do Jacaré e do Violão, em diferentes estágios evolutivos, cuja tendência é a de se transformarem em pântanos costeiros. Este sistema é descrito tecnicamente como barreira costeira múltipla complexa, e se desenvolveu durante os três últimos grandes ciclos de variação do nível do mar, durante os períodos Pleistoceno e Holoceno. Em tempos recentes as lâminas de água têm sofrido uma acentuada redução, acarretando mudanças na sua salinidade e ecologia.
Outra formação hídrica importante é a bacia do Rio Mampituba, que banha uma área habitada por mais de 12.000 pessoas e atravessa áreas inseridas na Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Sua superfície é de 11.300 hectares, com um perímetro de 14,5 km. O Rio Mampituba nasce na Serra Geral e em Torres desemboca no oceano Atlântico, após percorrer 62 km, delimitando, em seu baixo curso, a fronteira entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Tem, no lado riograndense, entre seus afluentes o Rio Pavão e duas importantes lagoas que extravasam através do Rio do Forno: a Lagoa do Morro do Forno, formada pelo Rio do Mengue e o Rio das Pacas, e a Lagoa do Jacaré. Em Santa Catarina recebe as águas da grande Lagoa do Sombrio e do Rio Sertão, seu principal afluente.
Relevo
A área onde hoje se encontra a cidade tem sido habitada pelo homem desde há milhares de anos, existindo testemunhos físicos na forma de sambaquis e outros achados arqueológicos. No século XVII, durante a colonização do Brasil pelos portugueses, por estar encravado em um estreitamento da planície costeira sulina, o local passou a se constituir rota de passagem obrigatória para os tropeiros e outros desbravadores e aventureiros luso-brasileiros vindos do norte pelo litoral - a única outra passagem que havia então era por cima do planalto de Vacaria - e que buscavam os rebanhos livres de gado que se multiplicavam no pampa mais ao sul e caçavam os indígenas para fazê-los escravos. Muitos acabaram por se fixar na região e se tornaram estancieiros e pequenos agricultores. E por dispor de morros junto à praia, logo foi reconhecido seu valor estratégico como ponto de observação e controle de passagem, de importância militar e política no processo de expansão do território português sobre o espanhol. Foi fundada ali na última quadra do século XVIII uma fortificação, que entretanto logo foi desmantelada quando a conquista se efetivou.
A construção da Igreja de São Domingos no início do século XIX atraiu para seu entorno muitos dos residentes dispersos na região, estruturando-se desta forma um povoado. Sua evolução ao longo deste século, porém, foi morosa, mesmo tendo recebido levas de imigrantes alemães e italianos, sobrevivendo numa economia basicamente de subsistência. A expansão econômica, social e urbana só aconteceu a partir do início do século XX, quando em vista de sua bela paisagem, clima ameno e boas praias de banho, o potencial turístico da cidade foi descoberto e passou a ser explorado. Desde então cresceu com mais vigor e celeridade, chegando hoje a se tornar uma das praias mais procuradas do estado, recebendo no verão um público flutuante mensal de 200.000 pessoas, muitas delas estrangeiras, vindas principalmente dos países do Prata. Isso contrasta com as dimensões de sua população fixa. Não por isso deixou de desenvolver uma economia consistente e boa infraestrutura para atender a esta demanda turística, sua fonte principal de renda.
Enquanto o turismo trouxe progresso e crescimento, tornando a cidade um polo estadual para eventos, festas, competições esportivas, espetáculos e outras atrações, trouxe também sérios problemas para o meio ambiente e a cultura tradicional. Antes coberta pela Mata Atlântica, de biodiversidade especialmente rica pela variedade de ambientes criados pela geografia complexa da área, hoje tem este patrimônio natural severamente ameaçado e muito reduzido, com poucas áreas preservadas, já tendo perdido muitas espécies e estando outras tantas em perigo.
História
Pré-história
A região de Torres, cidade litorânea do estado brasileiro do Rio Grande do Sul, vem sendo habitada pelo homem há milhares de anos. Os primeiros a percorrê-la foram grupos de caçadores-coletores-pescadores oriundos do norte do continente, e que deixaram diversos vestígios na região sob a forma de sambaquis, grandes montes artificiais de conchas onde são encontrados frequentemente sepulturas humanas e objetos de pedra e osso como machados, pesos de redes, anzóis, pontas de flechas e esculturas representando aves, peixes, cetáceos, quadrúpedes e raros antropomorfos, além de outros artefatos. Estas populações acabaram, durante o Neolítico, por iniciar um processo de fixação no local, adaptando-se para um modelo sedentário, domesticando plantas como o milho, amendoim, tabaco, pimenta e batata para cultivo e se tornando agricultores. Desta fase também são encontrados vestígios de índios da chamada Cultura Taquara, agricultores do planalto que vinham ao litoral sazonalmente para pescar e coletar moluscos, a fim de complementarem sua dieta, fazendo acampamentos em zonas limítrofes entre a restinga e as dunas. Mais ou menos na mesma época a região passou por uma nova onda migratória, desta vez composta pelos guaranis, cuja cultura era mais complexa e cujos relictos são mais complexos, incluindo cerâmicas e objetos rituais, além de se supor que tivessem já desenvolvido também a cestaria, a arte plumária e a tecelagem.
Colonização portuguesa
A geografia da área de Torres é singular. Estando numa longa planície litorânea que vai de Laguna até depois do Chuí, uma das mais extensas praias arenosas contínuas do mundo, salienta-se nesta paisagem por ser possuidora dos únicos afloramentos rochosos à beira-mar, as chamadas "torres" de basalto vulcânico que lhe deram o nome. Neste local, além disso, a planície costeira, que ao norte e sul é mais larga, se afunila, o que fez deste ponto uma rota de passagem obrigatória para todos os que não quisessem transpor entre sul e norte tendo de percorrer os planaltos da Serra Geral. Os índios em suas movimentações já haviam percebido que Torres era um caminho natural, e haviam aberto picadas por ali antes de os portugueses chegarem.
A colonização da área pelo homem branco iniciou não muito depois da Descoberta do Brasil em 1500. Uma carta de 1639 do rei Filipe IV de Espanha ao vice-rei do Peru Marquês de Mancera diz que desde tempos antes os paulistas vinham avançando sobre o litoral sul do Brasil. As trilhas abertas pelos índios se tornaram o caminho usado pelos portugueses ao longo do século século XVII, vindos do norte, para irem pouco a pouco se apossando de um território que pela lei da época pertencia à Espanha, por força do Tratado de Tordesilhas - a parte portuguesa encerrava na altura de Laguna, em Santa Catarina, bem mais ao norte. Uma crônica de Jerônimo Rodrigues narra que ali era a fronteira da nação indígena ibirajara, que dominava até o Rio Mampituba, tendo os patos ou carijós ao norte, mas que estavam sempre incursionando uns em terras de outros.
Entre os pioneiros brancos que se aventuraram por aquelas paragens estavam caçadores de escravos, que vinham em busca de índios, e tropeiros que vinham arrebanhar o gado que se multiplicava livre no pampa. E Portugal ignorando os tratados permanecia avançando sobre terras da Espanha. Depois da fundação de Rio Grande em 1737 na barra da Lagoa dos Patos, no litoral sul do estado, os portugueses fundaram um registro militar na altura de Imbé em 1738. Porém, este não dava conta do controle de toda a área até a Serra, e se viu necessária a posse do estreitamento da planície costeira mais para o norte, onde Torres iria nascer. O primeiro local escolhido foi as pedras de Itapeva, cerca de 60 km ao norte de Imbé, criando-se outra guarnição militar, mas a qual, da mesma forma, se mostrou insuficiente, ainda não cobrindo uma última picada pela qual os contrabandistas de gado podiam passar sem ser vistos. No fim do século XVII já era registrada a presença de alguns residentes luso-brasileiros dispersos por esta região.
A partir de 1761 é registrada a concessão de algumas sesmarias entre Itapeva e o Rio Mampituba, fixando novos colonos. Em 1777 foi erguida no flanco oriental do Morro das Furnas uma bateria com dois canhões, chamada de Forte de São Diogo das Torres, com o objetivo expresso de controlar os espanhóis que nesta altura haviam dominado a Ilha de Santa Catarina e ameaçavam avançar para o sul. O local foi escolhido por proporcionar uma visão elevada e desobstruída em um largo círculo. Porém, diante do armistício, o forte foi abandonado, mas o valor estratégico deste ponto continuou sendo reconhecido e aproveitado. Por isso, o tenente-general Sebastião Xavier da Câmara, governador da Capitania do Rio Grande de São Pedro, mandou o engenheiro José de Saldanha erguer em 1797 uma nova guarda e registro militar para controle e pedágio da passagem terrestre, com duas peças de calibre 4 e um destacamento de soldados. O forte era apenas uma guarnição de madeira e palha, com uma casinha de pedra e telha para abrigar a pólvora. Em 1801 assumiu o comando da guarnição o alferes Manuel Ferreira Porto, considerado o fundador da cidade. Com a criação dos primeiros municípios da capitania, em 1809, esta área recaiu sob a jurisdição de Santo Antônio da Patrulha, tornando-se o Distrito das Torres.
Início da urbanização
Não há mais notícia do local até 1815, quando por ali passou o Bispo do Rio de Janeiro, Dom José Caetano da Silva Coutinho, cuja diocese se estendia até esta capitania. A pedido de alguns rancheiros da região, autorizou a ereção de uma capela. Em 1818, por despacho do Marquês de Alegrete, foi concedida uma área de 150 braças quadradas para formação de um povoado e construção do templo, que entretanto iniciou e logo parou pela extrema pobreza e desunião dos locais. O ano seguinte marca a chegada do brigadeiro Francisco de Paula Soares de Gusmão, enviado pelo Conde da Figueira, governador da capitania, para reforçar a fortificação, que já estava novamente em ruínas, e inspecionar a barra do Rio Mampituba e o litoral norte, para verificar se por ali podiam se desembarcar invasores espanhóis. Francisco fez como ordenado, e concluiu que um desembarque era impossível, dada a ausência de um porto natural e por ser um litoral perigoso para navegação. A ameaça espanhola que voltara a assombrar os lusos no fim não se materializou, e o forte deixou de ter razão de ser. Francisco recebeu ordem de se retirar para a capital, mas percebendo a boa posição geográfica do lugar e seu potencial econômico como passagem muito frequentada para a Capitania de Santa Catarina, pediu para ficar e assentar definitivamente a desejada capela para socorro espiritual de muitos em uma área de 40 léguas em torno, que precisavam se deslocar até Osório ou Laguna para o culto. Aprovada a solicitação, o conde mandou, em 1820, iniciar à "Povoação das Torres" com algumas índias de Taquarembó. Francisco de Paula as tomou e fez que casassem com brancos, e fossem morar num arraial erguido às margens da Lagoa do Violão. Logo deu início às obras da capela, e antes que ela se concluísse mandou vir para capelão o padre Marcelino Lopes Falcão. No Natal de 1820 foi ouvida a primeira missa.
Em meados do mesmo ano a visitara o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, que deixou vívido relato da paisagem, da natureza e da vida dos residentes. Ao chegar encontrara o alferes Porto comandando cerca de 30 escravos índios a trabalharem nas estruturas do forte. Em Itapeva pernoitou num casebre de treliça de estacas e folhas de palmeira, "sem porta e (com) um quarto desprovido de janela e mobiliário, onde a roupa branca e o vestuário de toda a família são estendidos sobre traves". Em contraste com a pobreza da habitação, a senhora usava um traje elegante e os cabelos penteados com gosto.
Entretanto, Francisco disse que o comando militar passou para o alferes Porto somente no ano seguinte, e então a atividade teria esmorecido. Proclamada a Independência, passando por ali em 1824 o novo governante da ora Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, o Visconde de São Leopoldo, percebendo as potencialidades do sítio e reconhecendo o bom trabalho anterior de Francisco de Paula, voltou a encarregá-lo do povoamento e finalização da capela, o que ocorreu em 1825, quando foi elevada a capela curada. A capela, atualmente conhecida pelo nome de Igreja de São Domingos, se tornou um chamariz para várias outras famílias que já estavam por ali arranchadas, crescendo o povoado em seu redor, que em quatro anos já tinha passado de 1.000 habitantes. Francisco de Paula, na correspondência que deixou, se revela um entusiasta pelo projeto, ajudando novos moradores a se estabelecerem, abrindo ruas, instalando fontes, criando um cemitério, casa paroquial, presídio e outras benfeitorias, muitas vezes às suas próprias custas, além de solicitar ao governo da capitania que enviasse outros recursos humanos e materiais. Já nesta época começou a imaginar a construção de um porto e regularização da barra do Mampituba.
Em 1826 a Câmara de Santo Antônio da Patrulha iniciou a instalação de mais de cem famílias de imigrantes alemães, protestantes nas colônias de Três Forquilhas e católicos em São Pedro de Alcântara, a poucas léguas para o interior do núcleo inicial do Povoado das Torres. Um viajante alemão em passagem, Carl Seidler, contudo, disse que a distribuição dos lotes foi desigual, os católicos recebendo os melhores, o que causava frequente atrito com os protestantes. Disse mais, que a região ainda era assolada por índios, que matavam gente e causavam destruições, com a consequência de a população decrescer em vez de aumentar.
Apesar das visões positivas de Francisco, sabe-se que a sobrevivência do povoado era precária, agravada por frequentes desentendimentos entre os locais e a Câmara de Santo Antônio por causa de impostos excessivos, interditos arbitrários sobre a pesca, divisão irregular de terras e outras disputas, e pela eclosão da Guerra dos Farrapos em 1835, que criou uma situação de penúria e tumulto, sendo alternadamente ocupada por forças imperiais e farroupilhas. Em pleno conflito, em 1837 foi elevada a Freguesia com o nome de Freguesia de São Domingos das Torres.
Os relatórios oficiais da época são repletos de queixas pelas más condições gerais e de súplicas por envio de ajuda da capital. Em 1846 havia apenas 187 proprietários registrados na cidade e menos de 150 eleitores. A soma desses fatores acabou por levar à emancipação em 1857 do então Distrito de Conceição do Arroio, hoje Osório, separando-se de Santo Antônio e incorporando a si o Distrito das Torres. Nesta altura a navegação interna pela rede de lagoas e canais da região começava a se tornar mais intensa, criando uma ligação entre o litoral norte e Porto Alegre por onde passavam pessoas e bens. Vários deputados e administradores locais tentaram promover o progresso, havia na prática um consenso de que a região tinha um grande potencial ainda inaproveitado, mas embora algumas melhorias fossem conseguidas, a própria Província não era rica e pouco pôde fazer, e as queixas de pobreza continuaram.
A situação de estagnação social, cultural, urbana e econômica se prolongou até o início do século XX, chegando a surpreender que o povoado tenha sido erigido, num mesmo ato de 1878, a Vila, e em seguida a Cidade. Natural que perdesse o maior status, sendo reanexada a Osório. Voltou a ser município só em 1890. A Proclamação da República trouxe principalmente agitação política para a cidade, que teve diversos administradores se sucedendo em curto espaço. Outro sobressalto foi a Revolução Federalista de 1893, servindo de passagem para tropas. No mesmo ano começaram a chegar, descendo a Serra, famílias de imigrantes italianos que não conseguiram se fixar na região de Caxias do Sul. E a riqueza para a população continuava a ser coisa desconhecida. O resumo dos cerca de trinta inventários deixados por defuntos entre 1896 e 1898 indica que naquele tempo quase metade das famílias ainda não dispunha de uma mesa de refeições em suas casas.
Progresso
Em 1892 a ideia do porto em Torres voltava a ganhar alento. Iniciou-se a construção de um molhes na Praia da Guarita, para abrigar navios que viriam trazer material de construção para o porto verdadeiro. As pedras para o molhes saíram dos próprios morros vizinhos, explodidos com dinamite (os rombos ainda são visíveis), mas em breve o projeto foi abandonado, com apenas 50m de um molhe construído. Na virada para o século XX Torres começou a se tornar notícia frequente nos jornais da capital (mais de trezentas notas entre 1895 e 1912), e a tônica dos debates era o aproveitamento dos canais e lagoas para navegação interna, bem como a velha ideia de construção de um porto; falava-se também na construção de uma ferrovia. Essas obras deveriam certamente acelerar seu crescimento, mas não se realizaram como o esperado. A solução para o atraso socioeconômico e cultural veio de outra parte, quase casualmente.
Na mesma época o Brasil procurava se modernizar, e olhava para a Europa em busca de modelos de civilização; assim, entre outras tendências imitadas começou a se notar a adoção pelas elites do conceito europeu de férias e da moda dos banhos de mar, considerados terapêuticos, e com isso começaram a chegar em 1910 os primeiros veranistas, vindos do planalto gaúcho e de Porto Alegre. Mas ainda não havia boas estradas, e a viagem, que durava de três a quatro dias, era um empreendimento trabalhoso, ocorrendo geralmente em carretas ou lombo de mulas e sendo necessário levar comida e outros bens para um conforto mínimo, pois nenhuma estrutura especial para receber esses visitantes ainda fora desenvolvida. Esses veranistas pioneiros geralmente acampavam à beira-mar, ou se hospedavam em uma das pobres pensões do local. Seus costumes eram espartanos, e como relatou Mário de Freitas, os homens assim que chegavam adquiriam um pijama, um par de tamancos, um chapéu de palha de butiá e uma bengala de pau entalhado típica da região. As mulheres usavam de regra apenas um robe de chitão ou opalina, calçando chinelos ou sandálias. Os banhos eram tomados bem cedo, seguindo uma ritualística própria de acordo com as ideias médicas da época, recebendo o banhista somente um número de ondas pré-determinado, o que era repetido por nove banhos, quando o "tratamento" era dado por encerrado.
Dentre as personalidades que deram forte impulso ao desenvolvimento de Torres, destaca-se quem primeiro percebeu e decidiu explorar o potencial para o turismo da cidade: José Antônio Picoral. Filho da colônia São Pedro de Alcântara, tornou-se próspero comerciante em Porto Alegre, mantendo, porém, vínculo com a terra de origem. Depois de um frustrante veraneio em Tramandaí, Picoral imaginou transformar Torres em uma moderna estação balneária e, em 1915, após entendimentos com João Pacheco de Freitas, Luiz André Maggi, Carlos Voges e outros torrienses, instalou seu Balneário Picoral, cuja sede a princípio foi o Hotel Voges, logo chamado Hotel Picoral, marco histórico da introdução do turismo em Torres e o maior empreendimento turístico do estado até então. Tinha grandes pavilhões para atividades coletivas como refeições e festas, e uma série de chalés para dormitório, organizados num quarteirão que focalizou a movimentação social de seu tempo e criou em seu redor a "zona nobre" da cidade, inaugurando um promissor caminho econômico alternativo pelo qual a cidade pôde enfim crescer.
O hábito do verão à beira-mar pouco a pouco se difundiu, e a partir da década de 1920 Torres acabou por ser conhecida pelos riograndenses como um local da moda. A instalação de uma linha de ônibus Torres-Capital tornou as coisas apenas um pouco mais fáceis para os veranistas, pois as estradas ainda não passavam de picadas esburacadas e sujeitas a alagamentos. Sobrevivem crônicas bem-humoradas sobre os passageiros sendo obrigados a empurrar o ônibus atolado no barro e juntas de mulas ou bois a tentar mover o veículo. Isso não parecia incomodá-los. Conforme dizem os relatos, era para eles tudo uma grande e divertida aventura, sabendo que logo estariam desfrutando de momentos de descontração na beira da praia, junto de amigos e parentes.
Esses novos visitantes trouxeram outros com eles, e mais outros, e a cidade começava a mudar seu perfil urbano, aparecendo pensões, outros hotéis como o Farol e o Sartori, mercados, abrindo-se ruas e se multiplicando as casas de verão. O Balneário Picoral vai então se tornar o centro de encontro de políticos e ricaços do estado, além de organizar em seus salões saraus literários, bailes elegantes e recitais de música. E logo diversos ilustres passaram a comprar terrenos para construir chalés de veraneio requintados, como Borges de Medeiros, Protásio Alves, Possidônio Cunha, Firmino Torely e muitos outros.
Cardoso diz que nesta fase se consolidou a vocação turística da cidade, ao mesmo tempo em que passava a ser vista como um local civilizado, cuja natureza já estava domesticada e posta a serviço do homem, especialmente pelo incentivo de médicos famosos da época, como o próprio Protásio Alves, sempre lembrando os benefícios do contato com o mar e a praia. Mas desde os primeiros momentos dessa elevação a um novo status, Torres já começou a assumir uma identidade peculiar como cidade de veraneio, o que torna as coisas todas muito movimentadas em três meses do ano, enquanto no restante a diminuição do número de pessoas presentes e atividades é marcante. Outra transformação foi o gradual afastamento dos agricultores e pescadores locais da participação integral nesse processo civilizador, construindo-se espaços de socialização e moradia bem diferenciados e exclusivos. Muitos desses nativos, durante o verão, deixavam suas lides habituais e se dedicavam a servir a elite que chegava como faxineiros, babás, cavalariços, cozinheiros, jardineiros, ou empregados nos vários hotéis que iam surgindo. Ao mesmo tempo, por causa desses grupos de forasteiros, a maioria se conhecendo mutuamente e se frequentando, a praia começou a assumir um perfil familiar. Nesse processo de "tomada de posse" e transformação da cidade pelos veranistas, em 1936, no "salão nobre" do Balneário Picoral, várias personalidades se reuniram para criar a Sociedade dos Amigos da Praia de Torres (SAPT). A SAPT efetivamente se tornou daí em diante uma força decisiva na determinação dos rumos da cidade.
Na década de 1950, com estradas melhoradas, o progresso começou a chegar mais rápido.
As décadas seguintes só viram a confirmação de Torres como cidade turística de economia sazonal, ao mesmo tempo em que seus distritos iniciavam a se tornar mais dinâmicos, organizando-se em núcleos urbanos mais ou menos autossuficientes. Essa tendência acabou por levar diversos deles à emancipação. Em 1988 separaram-se Três Cachoeiras e Arroio do Sal; em 1992, Três Forquilhas e Morrinhos do Sul.
Torres se desenvolveu nas últimas décadas e continua a manter seu prestígio como umas das mais concorridas praias do estado do Rio Grande do Sul, mas passou a experimentar dificuldades típicas do processo de desenvolvimento, tais como o descontrole na ocupação do espaço, degradação do meio ambiente e formação de bolsões de pobreza.
Entre as preocupações atuais da administração pública estão solucionar esses problemas através de um modelo de gestão sustentável, chamando à participação as classes antes excluídas, preservando também a memória e o patrimônio histórico e cultural, fomentando as artes, e procurando romper o esquema da sazonalidade, a fim de diversificar a economia e equilibrá-la ao longo de todo o ano.
Geografia
Torres pertence à Mesorregião Metropolitana de Porto Alegre e à Microrregião de Osório. Localiza-se a uma latitude 29º20'34" sul e a uma longitude 49º43'39" oeste, estando a uma altitude de 16 metros. Possui uma área de 264,5 km². Dista 197 km de Porto Alegre e 280 km de Florianópolis. Seus limites são o município de Passo de Torres (SC), ao norte, Arroio do Sal, ao sul, Mampituba, Dom Pedro de Alcântara e Morrinhos do Sul, a oeste, e o oceano Atlântico a leste.
Geologia e hidrografia
A cidade está localizada no litoral sul do Brasil, caracterizado por uma ampla planície costeira que vai do Cabo de Santa Marta em Santa Catarina até a Barra do Chuí, no Rio Grande do Sul, uma das mais extensas e contínuas praias arenosas conhecidas. O trecho é pontilhado por um complexo sistema de barreiras arenosas quartzíticas que delimitam uma série de lagos e lagunas rasos e canais, como as lagoas Itapeva, do Jacaré e do Violão, em diferentes estágios evolutivos, cuja tendência é a de se transformarem em pântanos costeiros. Este sistema é descrito tecnicamente como barreira costeira múltipla complexa, e se desenvolveu durante os três últimos grandes ciclos de variação do nível do mar, durante os períodos Pleistoceno e Holoceno. Em tempos recentes as lâminas de água têm sofrido uma acentuada redução, acarretando mudanças na sua salinidade e ecologia.
Outra formação hídrica importante é a bacia do Rio Mampituba, que banha uma área habitada por mais de 12.000 pessoas e atravessa áreas inseridas na Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Sua superfície é de 11.300 hectares, com um perímetro de 14,5 km. O Rio Mampituba nasce na Serra Geral e em Torres desemboca no oceano Atlântico, após percorrer 62 km, delimitando, em seu baixo curso, a fronteira entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Tem, no lado riograndense, entre seus afluentes o Rio Pavão e duas importantes lagoas que extravasam através do Rio do Forno: a Lagoa do Morro do Forno, formada pelo Rio do Mengue e o Rio das Pacas, e a Lagoa do Jacaré. Em Santa Catarina recebe as águas da grande Lagoa do Sombrio e do Rio Sertão, seu principal afluente.
Relevo
Na altura de Torres a planície costeira é particularmente estreita, comprimida contra as escarpas do planalto da Serra Geral, que na cidade lança fragmentos para a praia formando o único promontório rochoso de todo este extenso litoral, as falésias de Torres, popularmente conhecidas como "torres" e que deram o nome à cidade. As rochas penetram sob o mar e afloram a 2 km da costa, formando a diminuta Ilha dos Lobos, a única ilha do litoral riograndense, que sobressai apenas cerca de 2m do nível do mar e já foi responsável por vários naufrágios.
Solo
Solo
O terreno da cidade é formado por um substrato de arenitos eólicos da Formação Botucatu, datados do limite Jurássico/Cretáceo, constituídos por arenitos de estratificação cruzada, planar ou acanalada, de médio a grande porte, com raras intercalações de arenitos com estratificação plano-paralela e comumente alternância de lâminas de arenito fino e médio. Sobre esta camada ocorreram os sucessivos derrames de lava da Formação Serra Geral, datados do Mesozóico e constituídos principalmente por basaltos e basalto-andesitos toleíticos, que contrastam com riolitos e riodacitos.
Acompanhando uma tendência constatada em todo este litoral arenoso, observa-se a erosão da linha costeira pelo vento e variações no nível do mar por ocasião de temporais, ressacas e mudanças no regime de ondas. A plataforma continental adjacente tem uma declividade suave de 2m/km, sendo típica a presença de bancos arenosos lineares.
Praias
Acompanhando uma tendência constatada em todo este litoral arenoso, observa-se a erosão da linha costeira pelo vento e variações no nível do mar por ocasião de temporais, ressacas e mudanças no regime de ondas. A plataforma continental adjacente tem uma declividade suave de 2m/km, sendo típica a presença de bancos arenosos lineares.
Praias
A orla marítima municipal é dividida em cinco praias principais, cujos limites são formados pelas várias elevações rochosas. Na ordem norte-sul:
- Praia Grande, com 2 km de extensão, vai da barra do Rio Mampituba até o primeiro afloramento rochoso, que é raso e não tem nome; é a preferida para o banho de mar e onde ocorre a maioria dos eventos esportivos e shows a céu aberto no verão.
- Praia do Meio ou Prainha, com 600m, seguindo até o Morro do Farol; não é muito adequada para banhos em vista das muitas rochas no fundo.
- Praia da Cal, entre o Morro do Farol e o Morro das Furnas, cujo nome se deve à antiga presença de fornos de torrefação de conchas retiradas de sambaquis para a fabricação de cal.
- Praia da Guarita, entre o Morro das Furnas e o Morro da Guarita, junto ao parque ecológico que leva seu nome.
- Praia de Itapeva, do Morro da Guarita até o Morro de Itapeva (em tupi "pedra chata"), a maior de todas, com 6 km de extensão, sendo a mais distante do centro urbano e por isso a menos frequentada.
Clima
O clima de Torres é subtropical úmido, influenciado por massas de ar tropicais e polares, com predominância da massa tropical atlântica. As precipitações são abundantes e regulares durante todo o ano, sem a ocorrência de uma estação seca, sendo o índice pluviométrico de 1.580 milímetros. A temperatura média compensada anual é de aproximadamente 20 °C, com grande amplitude térmica ao longo do ano. Com elevados índices de umidade relativa do ar, a insolação atmosférica é de aproximadamente 2.100 horas/ano.
Ocorre às vezes a formação de ciclones extratropicais na costa, com ventos fortes, ressacas e temporais, que prejudicam principalmente as atividades marítimas como a pesca e o banho, podendo também causar alagamentos e danos em construções. Em 2004 a região foi atingida pelo furacão Catarina, fenômeno até então desconhecido pelos brasileiros, que deixou um rastro de destruição em Torres, com 1 500 casas danificadas e uma morte.
Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), desde 1961 a menor temperatura registrada em Torres foi de −0,2 °C, em 8 de junho de 2012 e a maior atingiu 41,4 °C, em 25 de dezembro do mesmo ano. O maior acumulado de precipitação em 24 horas chegou a 257,3 mm, em 14 de fevereiro de 2014. Setembro de 2009 foi o mês de maior precipitação, com 440,3 mm. Desde junho de 2006, a maior rajada de vento chegou a 112,3 km/h (31,2 m/s), na madrugada do dia 11 de dezembro de 2012.
Meio ambiente
A área de Torres está incluída no bioma da Mata Atlântica, caracterizado localmente pelo predomínio da floresta perenifólia higrófila costeira. Na definição de 1999 do Conselho Nacional do Meio Ambiente a área de Torres é caracterizada como de restinga.
Contudo, a diversidade geomorfológica e hídrica da cidade, que se localiza em uma área de transição entre serra, litoral e pampa, propicia a formação de ecossistemas diferenciados, com ambientes de dunas, praias, costões rochosos, banhados, lagoas, campos, matas e restingas propriamente ditas, cada qual com sua flora e fauna específicos. Muitas espécies tropicais encontram nesta região seu limite sul, como Ipomoea pes-caprae, Aniba firmula, Licaria armeniaca, Ormosia arborea, Clusia criuva, enquanto outras, típicas do pampa e do planalto, têm ali seu limite norte, como Acathosyris spinescens, Jordina rhombifolia, Regnellidium diphyllum, Berberis laurina, Discaria americana e outras. A zona costeira também se constitui numa rota de aves migratórias de habitats costeiros. Mais de 60 espécies com ocorrência no Litoral Norte do Rio Grande do Sul pertencem a esta categoria, mas não nidificam no local.
Torres já está sob grande pressão ambiental, notando-se a ocupação desordenada do solo e o avanço rápido da urbanização, o desmatamento, a poluição e a destruição do ambiente natural, além de pesca e caça predatórias.
Ainda existe uma rica biodiversidade em Torres, mas quase todos os grandes carnívoros e herbívoros nativos estão localmente extintos, sobrevivendo apenas poucas capivaras, jacarés-de-papo-amarelo e lobos-marinhos em migração desde a Patagônia. Estes até a década de 1980 ainda apareciam para acasalar em grandes grupos na Ilha dos Lobos, que deve seu nome a eles, mas eram abatidos em massa por estragarem as redes dos pescadores quando buscavam seu peixe, e atualmente sua presença é mais rara. Também de passagem aparecem golfinhos, baleias, botos e tartarugas-marinhas. Entre as espécies animais ameaçadas na região se encontram o acima citado jacaré (Caiman latirostris), a corvina (Micropogonias furnieri), seis espécies de peixe-rei, a rã Physalaemus riograndensis, o lagarto Liolaemus occipitalis, a marreca-caneleira (Dendrocygna bicolor), o bugio-ruivo (Allouata fusca). Na flora se encontram sob ameaça, por exemplo, o butiá (Butia capitata), o gravatá (Vriesea psittacina), a quaresmeira (Rollinia maritima), o palmito (Euterpe edulis), o buriti (Trithrinax brasiliensis), a vassourinha (Eupatorium ulei), o cipó-rabo-de-macaco (Rourea gracilis), a taquara-mansa (Merostachys pluriflora), algumas delas endêmicas.
Existem quatro áreas de preservação ambiental na cidade: a Reserva Ecológica da Ilha dos Lobos, pertencente à União e contando com apenas dois hectares, o Parque Estadual de Torres, com 15 ha, o Parque Estadual de Itapeva, com 1.000 ha, e o Parque Estadual da Guarita, com 350 ha. Isso não basta para salvar a grande quantidade de espécies ameaçadas da região, pois não há nem área suficiente protegida, nem nas áreas protegidas há representatividade biológica completa. Salvo na reserva da Ilha dos Lobos, todas as demais têm áreas invadidas por habitações irregulares ou integram áreas de urbanização mais antiga, cuja população rotineiramente transgride as regras de conservação, seja ocupando o solo, lançando esgoto e detritos, caçando e pescando, e interferindo na vegetação, acentuando a pressão ambiental e fazendo degradar áreas até há pouco em bom estado. A própria Ilha, por sua vez, embora o desembarque seja proibido, é impactada pela presença em seu entorno de barcos turísticos, surfistas e principalmente por barcos pescadores clandestinos, que lançam suas redes a pouca distância para capturar os cardumes que frequentam as rochas submarinas. O governo estadual reconheceu que a situação das suas reservas é precária, sofrendo com carência crônica de recursos financeiros, infraestrutura e pessoal. Na verdade, já não existe nenhum ambiente natural intacto na região de Torres. Por outro lado, algumas ONGs ambientais já atuam, e o poder público tem dado alguma atenção ao caso, como por exemplo organizando o Plano de Manejo do Parque Estadual de Itapeva, o Fórum de Manejo e Conservação da Lagoa Itapeva e o programa do Corredor Ecológico Integrado do Litoral Norte, através do qual estão sendo desenvolvidos vários projetos piloto de utilização sustentável dos recursos da planície costeira e da Mata Atlântica.
Mesmo assim, diversos vereadores locais já se manifestaram contra o que consideram um excesso de preocupação ecológica, que segundo eles vem a prejudicar a vocação turística e a economia do município. Como exemplo está o protesto contra a criação do Parque de Itapeva, quando acusaram o governo de não pagar as devidas indenizações pela desapropriação e de impedir o desenvolvimento econômico da região. O vereador Carlos Alberto da Rosa disse que "criaram até uma lei para impedir os carros particulares de transitarem pela praia, porque estão preocupados com as tatuíras.... Ao invés de melhorar estão diminuindo a nossa cidade. Nossa cidade é turística e nunca podemos perder isto de vista".
Demografia
No censo demográfico do IBGE de 2022, a população de Torres, era de 41.751 habitantes.
Economia
A principal atividade econômica da cidade é o turismo.
O setor primário responde por 15% da economia do município. A grande maioria dos produtores rurais é de proprietários individuais, dedicando-se principalmente a lavouras temporárias e a pastagens. As principais culturas são: arroz, banana, cana-de-açúcar, mandioca e abacaxi. Existem rebanhos de suínos, bovinos, galos, frangas, frangos e pintos e criações pequenas de ovelhas, codornas e coelhos.
Além disso, é feita a extração de alguns minerais: areia, argila, basalto e arenito. Há ainda um potencial energético em virtude da recente descoberta de uma jazida de turfa, que pode ser usada como combustível, nas imediações da Lagoa do Morro do Forno.
Cidade litorânea, Torres também possui atividade pesqueira, que, embora em declínio, vem demonstrando uma tendência de passar da pesca de beira-mar à pesca embarcada, até porque a pesca de beira-mar vinha encontrando dificuldade diante do crescente afluxo de banhistas e surfistas durante o verão. Para evitar conflitos, foi criada legislação especial, definindo áreas permitidas para cada atividade. O poder público vem buscando a capacitação profissional e habilitação legal dos pescadores, bem como promover a pesca artesanal. Os barcos podem pescar até 3 toneladas de peixe por viagem, sendo os mais procurados a tainha, corvina, pescada, abrótea, cação, bagre, linguado, traíra e jundiá. Também se pratica a pesca nas lagoas e rios da região. Em 2010 o governo federal assumiu um compromisso de levar adiante o Projeto dos Molhes do rio Mampituba, que prevê o prolongamento dos dois braços dos molhes e ampliação do calado da barra, para permitir a entrada segura de barcos pesqueiros de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.
A indústria, ainda incipiente, representa em torno de 5% da atividade econômica torriense. Em 1996 havia 51 indústrias instaladas, predominando as de móveis e esquadrias, vestuário e processamento de produtos primários (engenhos de cana-de-açúcar, destilarias de aguardente, descascadores de arroz, estufas de fumo, indústrias caseiras de alimentos). Por outro lado, o comércio, em função do turismo, é bem desenvolvido, com destaque para os setores alimentício, tecidos, vestuários e calçados, bens de consumo duráveis e ferragens, ferramentas e materiais de construção. O comércio é essencialmente varejista. O mesmo fator turístico, é um dos maiores responsáveis pela explosão na construção civil verificada em anos recentes. O setor de serviços tem diversas empresas cadastradas, privilegiando os setores de turismo e de reparos, manutenção e mecânica.
Turismo
Torres vive essencialmente em torno do turismo que sua bela paisagem natural e suas praias de banho favorecem. Esta vocação turística, como já se aludiu, foi intuída no início do século XX por José Picoral, o primeiro a vislumbrar a cidade como um balneário atraente para os habitantes do interior do estado, especialmente de Porto Alegre, oferecendo uma infraestrutura hoteleira básica. A partir de sua iniciativa, em breve Torres se tornara um balneário da moda para os riograndenses, e tal fama ainda persiste hoje.
Estima-se que durante os três meses de temporada de verão (dezembro, janeiro e fevereiro) a população aumente significativamente.
A cidade, por isso, já desenvolveu sólida infraestrutura turística, com grande número de hotéis de todos os níveis e tipos, incluindo pousadas e hotéis para cães, e boa oferta de serviços.
Variados eventos organizados na cidade também atraem apreciáveis contingentes de público visitante. Eventos, festas, feiras, mostras, competições, atividades culturais e artísticas são promovidos não só no verão, quando são certamente mais numerosos, mas também ao longo de todo o ano. Destes talvez o mais importante seja o Festival Internacional de Balonismo, realizando-se entre abril e maio. É considerado um dos maiores festivais de balonismo do mundo. Mas também são organizados inúmeros eventos mais voltados para a população residente, embora tenham interesse turístico, como o Arraial Fest Torres, uma Festa Junina oficial de caráter familiar, mostras de artesanato de associações comunitárias e as comemorações locais da Semana Farroupilha.
Educação
A educação do município é dada através de catorze escolas com atendimento pré-escolar (cinco privadas; dezenove escolas de nível fundamental, sendo nove delas públicas; cinco escolas ofereciam ensino médio, sendo três escolas públicas.
Existe uma escola supletiva de primeiro e segundo nível, oferecendo também cursos técnicos. O Sistema Nacional de Emprego (SINE) oferece na cidade diversos cursos profissionalizantes, como camareiro, copeiro, cozinheiro, língua espanhola, garçom, recepcionista, telefonista, técnicas de vendas e operador de computador, e o SENAC também ministra cursos técnicos, como informática, linguagem Libras, organização e planejamento, atendimento ao cliente, vendedor e línguas estrangeiras. O atendimento especial é dado por um posto da APAE, para 154 alunos.
O ensino superior é atendido por uma unidade da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), com dezesseis cursos de graduação, além de oferecer cursos à distância em Educação, Direito e Gestão. A ULBRA também abre espaço para discussões sobre o ensino público e privado, como por exemplo organizando e sediando o Simpósio Internacional de Educação e o Fórum Nacional de Educação, ambos já com várias edições, e organiza outras atividades de integração com a rede escolar, como o projeto Júri nas Escolas palestras e ações de saúde pública.
Transportes
As principais vias de acesso terrestre são a BR-101 e a Estrada do Mar (RS-389). O acesso aéreo se dá pelo Aeroporto de Torres, mas de fato ele é pouco utilizado, já que não se conseguiu enquadrá-lo nos voos turísticos e comerciais que atravessam o continente, conforme disse o jornalista Gastão Muri. O transporte aquático é praticado em pequena escala, prejudicado pela inexistência de um porto, embora ideias para sua construção existam desde o século XIX. Antigamente havia intensa navegação interior pela rede costeira de lagoas interligadas por canais, formando um sistema que se estende entre Osório e Laguna, em Santa Catarina, que, pela precariedade das estradas da época, era a melhor ligação até Porto Alegre, mas ao longo do século XX, com o aparecimento de outros meios de transporte, foi abandonada e hoje a rede quase só serve para passeios turísticos. O curso baixo do Rio Mampituba ainda é praticamente todo navegável, embora sua barra seja instável.
Cultura
Arquitetura e patrimônio histórico
Torres, um dos mais antigos núcleos de povoamento do estado, inicialmente tinha uma arquitetura extremamente pobre, constituída de casebres de barro ou ramos cobertos de palha ou folhas de palmeira. Em seguida começaram a surgir exemplares típicos da arquitetura colonial brasileira, de influência barroca portuguesa, com casas baixas construídas de taipa ou pedra e cobertas com telhas. Quando se iniciou a exploração turística no começo do século XX foram construídos diversos prédios novos, entre hotéis e residências de verão para famílias abastadas de Porto Alegre e do interior do estado, estas muitas vezes de madeira e com requintes decorativos como lambrequins e balaustradas. Porém o mesmo interesse turístico, acompanhado pela especulação imobiliária e pela falta de conscientização patrimonial, fez desaparecer nas décadas mais recentes quase a totalidade dessas construções iniciais, incluindo marcos históricos importantes como o Balneário Picoral, a sede antiga do Hotel Farol e o Hotel Sartori, os primeiros a serem implantados na cidade.
O único monumento histórico/artístico de grande porte a sobreviver na cidade é a Igreja de São Domingos, erguida entre 1819 e 1824, a primeira igreja a ser construída no trecho entre Laguna e Osório. É considerada, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul, que a tombou em 1983, o marco inicial da cidade, que se desenvolveu em seu entorno. Tem um estilo colonial luso-brasileiro, embora tenha sofrido algumas intervenções posteriores em diferentes linguagens arquitetônicas, resultando num conjunto eclético, onde o barroco colonial ainda predomina. Apesar de sua importância, sua manutenção é precária e foi interditada em 2010, quando parte de sua parede lateral desabou.
Contudo, o restauro realizado entre 2010 e 2017 surpreendentemente removeu ou modificou a maior parte dos elementos originais do interior, substituindo-os por elementos modernos, com perda extensa de sua autenticidade e valor como documento histórico e artístico.
Também resistem a "Casa da Terra", datada de 1854, e uma casa pegada à Igreja de São Domingos, chamada Casa nº 1, que recebeu o imperador Dom Pedro I em sua passagem pela cidade. Além disso, só existe um museu na cidade, o Museu Três Torres, que é privado e vinculado à Associação dos Amigos da Praia de Torres (SAPT). A Casa de Cultura age em parte como um, mas sem ter estrutura específica. Estava prevista para 2011 a construção de um museu de ciências naturais no Parque da Guarita, que contaria com aquários, esqueletos de animais marinhos e reproduções dos diferentes ecossistemas da região, além de exibir peças arqueológicas indígenas, mas o projeto ainda não se materializou.
Artes
A principal forma de arte cultivada pelos residentes, de acordo com De Rose, é a música popular, com inúmeros praticantes em várias de suas formas, desde tradicionais a contemporâneas. Podem ser destacados nestas áreas o Grupo de Cultura Popular Kikumbí, premiado em vários festivais do estado, o projeto Quinta na Praça, com música ao vivo em vários estilos apresentada no coreto da Praça XV de Novembro, privilegiando músicos locais e atraindo sempre muitos espectadores, e o grupo Mesa de Bar, que realiza recitais de poesia e de músicas próprias e MPB, excursionando por várias cidades do Rio Grande do Sul com sucesso.
No entanto, o crescimento turístico da cidade levou à consolidação de uma vida cultural e artística mais variada e dinâmica, concentrado, porém, nos meses de verão. A Casa de Cultura de Torres é o mais importante espaço cultural público da cidade, mostrando exposições e apresentações de arte. A SAPT também desenvolve significativa atuação cultural, mantendo em parceria com a Prefeitura o Centro Municipal de Cultura, com auditório para 200 pessoas, um espaço de mostras e organizando espetáculos, cursos e oficinas. Mas também há outros locais, como o Pátio das Artes, com atividades múltiplas, além de hotéis e associações comunitárias também abrirem seus espaços para as artes e o artesanato.
Em toda a cidade são realizados inúmeros espetáculos de teatro, música, cinema, exposições, festivais e shows diversos. A título de exemplo cite-se o festival de teatro Torres na Cena, que graças ao crescente interesse de grupos de São Paulo e Rio de Janeiro vem adquirindo contornos nacionais; a Feira do Livro de Torres, que vem crescendo a cada ano, dá espaço para escritores locais como Hellen Rolim e Cleide Lacerda Alves, e já contou com a participação de nomes importantes como Martha Medeiros, Moacyr Scliar, Mario Pirata e Luís Fernando Veríssimo; o Beach Folia, um dos maiores carnavais do estado; e as várias atrações promovidas pelo SESC, trazendo artistas de fama nacional.
Finalmente, é de lembrar que a paisagem torriense desde o século XIX vem servindo como motivo de inspiração para muitos artistas de fora, que a retrataram em pinturas, desenhos e fotografias, dos quais são importantes entre outros Jean-Baptiste Debret, Herrmann Rudolf Wendroth, Francis Pelichek, Luís Maristany de Trias e Danúbio Gonçalves. Entre os locais, merece nota Nilceomar Munari, há mais de uma década dedicada a pintar a cidade.
Tradições e folclore
Torres compartilha com toda a região do Litoral Norte do estado diversos costumes tradicionais, a começar pelos hábitos típicos da comunidade pesqueira, com suas técnicas e materiais antigos, que ainda sobrevivem principalmente entre os pescadores mais velhos, produzindo artesanalmente suas redes e barcos, mantendo seus conhecimentos e interpretações tradicionais sobre o mar, os fenômenos do clima e os peixes, e preservando uma série de práticas como a de fazer promessas e benzeduras antes de sair à pesca, ou usando amuletos. Ainda vivem também, consolidadas basicamente no século XIX mas de origem última imemorial, práticas de medicina caseira, alimentação, vestuário, formas de linguagem, uso de apelidos, lendas e histórias diversas, como as lendas sobre um tesouro enterrado no Morro das Furnas, sobre a praga lançada por um jesuíta por ter sido maltratado na cidade, e a do "espírito perdido", uma interpretação local do fogo-fátuo.
Nas formas de linguagem podem ser citados o uso de arcaísmos, como dous (dois), pero que (porque), entonce (então), alhur (alhures), pregunta (pergunta) e digues (diga), ou expressões idiomáticas, como fazer boca de bagre (omitir-se), bendito fruto (homem que se intromete em assuntos femininos), mostrar as escamas (revelar-se) e dar a casca (morrer). A medicina caseira encontra expressão no uso terapêutico ou profilático da água benta, de chás de ervas como arruda, mil-homens, guiné, alecrim, poejo, macela e muitas outras, além de benzeduras, orações e encantamentos, tais como a fórmula para resolver engasgamentos: biguá, biguá, sai espinha deste luga(r) que (es)tais, ou aquela invocada para curar icterícia com folhas de laranjeira: Deus te salve, laranjera, que eu não vim ti visitá, vim ti pidi nove foia, pruma visita expodá.
Outros costumes estão ligados aos ritos de passagem, sendo mais conhecidos os tabus que envolvem o nascimento, como o que impede a parturiente de pisar em escama de peixe, e a morte de crianças, quando se usava vesti-las como anjos e levar bandeirinhas ao cemitério para espetá-las na tumba. Outros ritos são a confecção de uma "mesa de inocentes" em pagamento de promessas, oferecendo doces e salgados a sete crianças com menos de oito anos, e o oferecimento de ex-votos feitos de massa de pão. Entre as festas populares se destacam os ternos de Reis, danças como o pau-de-fita e a jardineira, a festa do Boizinho, festas juninas, cantigas de roda, bailes e festas religiosas, sendo a mais concorrida a de Nossa Senhora dos Navegantes, católica, comemorada em conjunto com Iemanjá pelos adeptos das religiões afro-brasileiras. O artesanato é outra forma de manifestação de costumes antigos, havendo em Torres e arredores o cultivo da renda, do bordado, da cestaria, do artesanato com conchas, cipós e bambus para confecção de bolsas, tapetes, bijuterias, adornos para casas e outros objetos. Da mesma forma a culinária local tem pratos tradicionais, predominando os à base de peixe, marisco e siri, que podem ser preparados assados, fritos ou cozidos, geralmente acompanhados de pirão de mandioca, arroz e batatas, ou ainda na forma de moquecas e pastéis. Bebidas populares são a cachaça e o café, e entre os doces são apreciados os de batata-doce, de abóbora e de banana, além da rapadura, do pé-de-moleque e do puxa-puxa. Muitas destas formas de cultura tradicional, porém, como já foi assinalado, estão em vias de rápido desaparecimento diante da massificação da cultura produzida pela explosão do turismo.
Esportes
Pratica-se em Torres uma grande variedade de esportes ao ar livre e indoors, com grande número de equipes, campeonatos e outras provas sendo organizadas durante todo o ano, incluindo beneficentes, mas em especial no verão. A Prefeitura possui uma Gerência para o esporte e se ocupa mantendo infraestruturas, como o Parque Municipal, e programando eventos esportivos. Outras entidades públicas e privadas também participam da vida esportiva local organizando diversos eventos, com destaque para o SESC, que mantém um concorrido Circuito Verão de Esportes, multiesportivo, que na edição de 2011 reuniu cerca de 10.000 atletas de 80 municípios riograndenses nas etapas classificatórias, com as finais previstas para Torres e que devem envolver cerca de 3.000 atletas.
Atraídos pelo sucesso do Festival Internacional de Balonismo, praticantes de outras formas de esporte aéreo estão se interessando pela cidade e, segundo a Prefeitura, Torres está a caminho de se tornar a capital estadual do esporte aéreo, incluindo as modalidades de parapente (com e sem motor), aviação e ultraleve. Graças às suas praias, rios e lagoas, Torres pode explorar muitas atividades esportivas aquáticas, seja competitivas ou recreativas. Uma das mais populares é o surf, com várias provas, entre elas o Brasil Tour de Surf Profissional; a Taça Madeirite, que reune grandes nomes do surfe gaúcho; o Billabong Colegial de Surf, eleito o melhor evento de surf do estado; o Planeta Surf Hang Loose, válido pelo Circuito Estadual de Surf Amador, e o Circuito Interno de Surf.
No futebol se destaca o Campeonato Municipal de Futebol de Campo, onde participam equipes como a S. E. São João, E.C. Mar Azul, S. E. Maracanã, E. C. Boa União e várias outras, jogando nos estádios Riachão, Zelau, Evaldo Santos, Manecão, Comunitário e Estádio do Dragão. A equipe S. E. Torrense foi campeã do Campeonato Gaúcho de Futebol Feminino em 2010. Disputa-se também o Campeonato de Futebol de Salão e o Campeonato Praiano de Futebol, ambos mantidos pela Prefeitura. O vôlei de praia tem sua Copa Vôlei Verão, e destaca-se a dupla Daniel Reis e Samarone, vencedora invicta do Circuito Banrisul de Esportes 2010. O motocross tem a Copa Verão Sobrerodas de Motocross, com 230 pilotos inscritos em 2009; na corrida os atletas disputam o Circuito Torres de Corridas de Rua, uma parceria do Sesc Torres, Ulbra Torres e Prefeitura Municipal, com várias provas distintas, e a Travessia Torres-Tramandaí de Corrida. Vários atletas locais vêm obtendo prêmios e boas posições nestas competições e em outras fora dali, incluindo internacionais, como Claudinei Ribeiro, Sandra Couto e Airton Gaelzer. Além destas citadas, a cidade tem inúmeras outras atrações esportivas em outras modalidades, como taekwondo, rugby, skate, bocha, ciclismo, além de competições de jogos de mesa como canastra de duplas e xadrez.
Feriados
Além dos feriados nacionais 1º de janeiro (Confraternização Universal), 21 de abril (Tiradentes), 1º de maio (Dia do Trabalho), 7 de setembro (Independência do Brasil), 12 de outubro (Nossa Senhora Aparecida), 2 de novembro (Finados), 15 de novembro (Proclamação da República) e 25 de dezembro (Natal) e estadual 20 de setembro (Revolução Farroupilha), Torres celebra feriados municipais nos dias 2 de fevereiro (Nossa Senhora dos Navegantes), 21 de maio (emancipação da cidade), 8 de agosto (São Domingos, padroeiro) e 8 de dezembro (Dia da Justiça, feriado judiciário).
Referência para o texto: Wikipédia .
- Praia Grande, com 2 km de extensão, vai da barra do Rio Mampituba até o primeiro afloramento rochoso, que é raso e não tem nome; é a preferida para o banho de mar e onde ocorre a maioria dos eventos esportivos e shows a céu aberto no verão.
- Praia do Meio ou Prainha, com 600m, seguindo até o Morro do Farol; não é muito adequada para banhos em vista das muitas rochas no fundo.
- Praia da Cal, entre o Morro do Farol e o Morro das Furnas, cujo nome se deve à antiga presença de fornos de torrefação de conchas retiradas de sambaquis para a fabricação de cal.
- Praia da Guarita, entre o Morro das Furnas e o Morro da Guarita, junto ao parque ecológico que leva seu nome.
- Praia de Itapeva, do Morro da Guarita até o Morro de Itapeva (em tupi "pedra chata"), a maior de todas, com 6 km de extensão, sendo a mais distante do centro urbano e por isso a menos frequentada.
Clima
O clima de Torres é subtropical úmido, influenciado por massas de ar tropicais e polares, com predominância da massa tropical atlântica. As precipitações são abundantes e regulares durante todo o ano, sem a ocorrência de uma estação seca, sendo o índice pluviométrico de 1.580 milímetros. A temperatura média compensada anual é de aproximadamente 20 °C, com grande amplitude térmica ao longo do ano. Com elevados índices de umidade relativa do ar, a insolação atmosférica é de aproximadamente 2.100 horas/ano.
Ocorre às vezes a formação de ciclones extratropicais na costa, com ventos fortes, ressacas e temporais, que prejudicam principalmente as atividades marítimas como a pesca e o banho, podendo também causar alagamentos e danos em construções. Em 2004 a região foi atingida pelo furacão Catarina, fenômeno até então desconhecido pelos brasileiros, que deixou um rastro de destruição em Torres, com 1 500 casas danificadas e uma morte.
Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), desde 1961 a menor temperatura registrada em Torres foi de −0,2 °C, em 8 de junho de 2012 e a maior atingiu 41,4 °C, em 25 de dezembro do mesmo ano. O maior acumulado de precipitação em 24 horas chegou a 257,3 mm, em 14 de fevereiro de 2014. Setembro de 2009 foi o mês de maior precipitação, com 440,3 mm. Desde junho de 2006, a maior rajada de vento chegou a 112,3 km/h (31,2 m/s), na madrugada do dia 11 de dezembro de 2012.
Meio ambiente
A área de Torres está incluída no bioma da Mata Atlântica, caracterizado localmente pelo predomínio da floresta perenifólia higrófila costeira. Na definição de 1999 do Conselho Nacional do Meio Ambiente a área de Torres é caracterizada como de restinga.
Contudo, a diversidade geomorfológica e hídrica da cidade, que se localiza em uma área de transição entre serra, litoral e pampa, propicia a formação de ecossistemas diferenciados, com ambientes de dunas, praias, costões rochosos, banhados, lagoas, campos, matas e restingas propriamente ditas, cada qual com sua flora e fauna específicos. Muitas espécies tropicais encontram nesta região seu limite sul, como Ipomoea pes-caprae, Aniba firmula, Licaria armeniaca, Ormosia arborea, Clusia criuva, enquanto outras, típicas do pampa e do planalto, têm ali seu limite norte, como Acathosyris spinescens, Jordina rhombifolia, Regnellidium diphyllum, Berberis laurina, Discaria americana e outras. A zona costeira também se constitui numa rota de aves migratórias de habitats costeiros. Mais de 60 espécies com ocorrência no Litoral Norte do Rio Grande do Sul pertencem a esta categoria, mas não nidificam no local.
Torres já está sob grande pressão ambiental, notando-se a ocupação desordenada do solo e o avanço rápido da urbanização, o desmatamento, a poluição e a destruição do ambiente natural, além de pesca e caça predatórias.
Ainda existe uma rica biodiversidade em Torres, mas quase todos os grandes carnívoros e herbívoros nativos estão localmente extintos, sobrevivendo apenas poucas capivaras, jacarés-de-papo-amarelo e lobos-marinhos em migração desde a Patagônia. Estes até a década de 1980 ainda apareciam para acasalar em grandes grupos na Ilha dos Lobos, que deve seu nome a eles, mas eram abatidos em massa por estragarem as redes dos pescadores quando buscavam seu peixe, e atualmente sua presença é mais rara. Também de passagem aparecem golfinhos, baleias, botos e tartarugas-marinhas. Entre as espécies animais ameaçadas na região se encontram o acima citado jacaré (Caiman latirostris), a corvina (Micropogonias furnieri), seis espécies de peixe-rei, a rã Physalaemus riograndensis, o lagarto Liolaemus occipitalis, a marreca-caneleira (Dendrocygna bicolor), o bugio-ruivo (Allouata fusca). Na flora se encontram sob ameaça, por exemplo, o butiá (Butia capitata), o gravatá (Vriesea psittacina), a quaresmeira (Rollinia maritima), o palmito (Euterpe edulis), o buriti (Trithrinax brasiliensis), a vassourinha (Eupatorium ulei), o cipó-rabo-de-macaco (Rourea gracilis), a taquara-mansa (Merostachys pluriflora), algumas delas endêmicas.
Existem quatro áreas de preservação ambiental na cidade: a Reserva Ecológica da Ilha dos Lobos, pertencente à União e contando com apenas dois hectares, o Parque Estadual de Torres, com 15 ha, o Parque Estadual de Itapeva, com 1.000 ha, e o Parque Estadual da Guarita, com 350 ha. Isso não basta para salvar a grande quantidade de espécies ameaçadas da região, pois não há nem área suficiente protegida, nem nas áreas protegidas há representatividade biológica completa. Salvo na reserva da Ilha dos Lobos, todas as demais têm áreas invadidas por habitações irregulares ou integram áreas de urbanização mais antiga, cuja população rotineiramente transgride as regras de conservação, seja ocupando o solo, lançando esgoto e detritos, caçando e pescando, e interferindo na vegetação, acentuando a pressão ambiental e fazendo degradar áreas até há pouco em bom estado. A própria Ilha, por sua vez, embora o desembarque seja proibido, é impactada pela presença em seu entorno de barcos turísticos, surfistas e principalmente por barcos pescadores clandestinos, que lançam suas redes a pouca distância para capturar os cardumes que frequentam as rochas submarinas. O governo estadual reconheceu que a situação das suas reservas é precária, sofrendo com carência crônica de recursos financeiros, infraestrutura e pessoal. Na verdade, já não existe nenhum ambiente natural intacto na região de Torres. Por outro lado, algumas ONGs ambientais já atuam, e o poder público tem dado alguma atenção ao caso, como por exemplo organizando o Plano de Manejo do Parque Estadual de Itapeva, o Fórum de Manejo e Conservação da Lagoa Itapeva e o programa do Corredor Ecológico Integrado do Litoral Norte, através do qual estão sendo desenvolvidos vários projetos piloto de utilização sustentável dos recursos da planície costeira e da Mata Atlântica.
Mesmo assim, diversos vereadores locais já se manifestaram contra o que consideram um excesso de preocupação ecológica, que segundo eles vem a prejudicar a vocação turística e a economia do município. Como exemplo está o protesto contra a criação do Parque de Itapeva, quando acusaram o governo de não pagar as devidas indenizações pela desapropriação e de impedir o desenvolvimento econômico da região. O vereador Carlos Alberto da Rosa disse que "criaram até uma lei para impedir os carros particulares de transitarem pela praia, porque estão preocupados com as tatuíras.... Ao invés de melhorar estão diminuindo a nossa cidade. Nossa cidade é turística e nunca podemos perder isto de vista".
Demografia
No censo demográfico do IBGE de 2022, a população de Torres, era de 41.751 habitantes.
Economia
A principal atividade econômica da cidade é o turismo.
O setor primário responde por 15% da economia do município. A grande maioria dos produtores rurais é de proprietários individuais, dedicando-se principalmente a lavouras temporárias e a pastagens. As principais culturas são: arroz, banana, cana-de-açúcar, mandioca e abacaxi. Existem rebanhos de suínos, bovinos, galos, frangas, frangos e pintos e criações pequenas de ovelhas, codornas e coelhos.
Além disso, é feita a extração de alguns minerais: areia, argila, basalto e arenito. Há ainda um potencial energético em virtude da recente descoberta de uma jazida de turfa, que pode ser usada como combustível, nas imediações da Lagoa do Morro do Forno.
Cidade litorânea, Torres também possui atividade pesqueira, que, embora em declínio, vem demonstrando uma tendência de passar da pesca de beira-mar à pesca embarcada, até porque a pesca de beira-mar vinha encontrando dificuldade diante do crescente afluxo de banhistas e surfistas durante o verão. Para evitar conflitos, foi criada legislação especial, definindo áreas permitidas para cada atividade. O poder público vem buscando a capacitação profissional e habilitação legal dos pescadores, bem como promover a pesca artesanal. Os barcos podem pescar até 3 toneladas de peixe por viagem, sendo os mais procurados a tainha, corvina, pescada, abrótea, cação, bagre, linguado, traíra e jundiá. Também se pratica a pesca nas lagoas e rios da região. Em 2010 o governo federal assumiu um compromisso de levar adiante o Projeto dos Molhes do rio Mampituba, que prevê o prolongamento dos dois braços dos molhes e ampliação do calado da barra, para permitir a entrada segura de barcos pesqueiros de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.
A indústria, ainda incipiente, representa em torno de 5% da atividade econômica torriense. Em 1996 havia 51 indústrias instaladas, predominando as de móveis e esquadrias, vestuário e processamento de produtos primários (engenhos de cana-de-açúcar, destilarias de aguardente, descascadores de arroz, estufas de fumo, indústrias caseiras de alimentos). Por outro lado, o comércio, em função do turismo, é bem desenvolvido, com destaque para os setores alimentício, tecidos, vestuários e calçados, bens de consumo duráveis e ferragens, ferramentas e materiais de construção. O comércio é essencialmente varejista. O mesmo fator turístico, é um dos maiores responsáveis pela explosão na construção civil verificada em anos recentes. O setor de serviços tem diversas empresas cadastradas, privilegiando os setores de turismo e de reparos, manutenção e mecânica.
Turismo
Torres vive essencialmente em torno do turismo que sua bela paisagem natural e suas praias de banho favorecem. Esta vocação turística, como já se aludiu, foi intuída no início do século XX por José Picoral, o primeiro a vislumbrar a cidade como um balneário atraente para os habitantes do interior do estado, especialmente de Porto Alegre, oferecendo uma infraestrutura hoteleira básica. A partir de sua iniciativa, em breve Torres se tornara um balneário da moda para os riograndenses, e tal fama ainda persiste hoje.
Estima-se que durante os três meses de temporada de verão (dezembro, janeiro e fevereiro) a população aumente significativamente.
A cidade, por isso, já desenvolveu sólida infraestrutura turística, com grande número de hotéis de todos os níveis e tipos, incluindo pousadas e hotéis para cães, e boa oferta de serviços.
Variados eventos organizados na cidade também atraem apreciáveis contingentes de público visitante. Eventos, festas, feiras, mostras, competições, atividades culturais e artísticas são promovidos não só no verão, quando são certamente mais numerosos, mas também ao longo de todo o ano. Destes talvez o mais importante seja o Festival Internacional de Balonismo, realizando-se entre abril e maio. É considerado um dos maiores festivais de balonismo do mundo. Mas também são organizados inúmeros eventos mais voltados para a população residente, embora tenham interesse turístico, como o Arraial Fest Torres, uma Festa Junina oficial de caráter familiar, mostras de artesanato de associações comunitárias e as comemorações locais da Semana Farroupilha.
Educação
A educação do município é dada através de catorze escolas com atendimento pré-escolar (cinco privadas; dezenove escolas de nível fundamental, sendo nove delas públicas; cinco escolas ofereciam ensino médio, sendo três escolas públicas.
Existe uma escola supletiva de primeiro e segundo nível, oferecendo também cursos técnicos. O Sistema Nacional de Emprego (SINE) oferece na cidade diversos cursos profissionalizantes, como camareiro, copeiro, cozinheiro, língua espanhola, garçom, recepcionista, telefonista, técnicas de vendas e operador de computador, e o SENAC também ministra cursos técnicos, como informática, linguagem Libras, organização e planejamento, atendimento ao cliente, vendedor e línguas estrangeiras. O atendimento especial é dado por um posto da APAE, para 154 alunos.
O ensino superior é atendido por uma unidade da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), com dezesseis cursos de graduação, além de oferecer cursos à distância em Educação, Direito e Gestão. A ULBRA também abre espaço para discussões sobre o ensino público e privado, como por exemplo organizando e sediando o Simpósio Internacional de Educação e o Fórum Nacional de Educação, ambos já com várias edições, e organiza outras atividades de integração com a rede escolar, como o projeto Júri nas Escolas palestras e ações de saúde pública.
Transportes
As principais vias de acesso terrestre são a BR-101 e a Estrada do Mar (RS-389). O acesso aéreo se dá pelo Aeroporto de Torres, mas de fato ele é pouco utilizado, já que não se conseguiu enquadrá-lo nos voos turísticos e comerciais que atravessam o continente, conforme disse o jornalista Gastão Muri. O transporte aquático é praticado em pequena escala, prejudicado pela inexistência de um porto, embora ideias para sua construção existam desde o século XIX. Antigamente havia intensa navegação interior pela rede costeira de lagoas interligadas por canais, formando um sistema que se estende entre Osório e Laguna, em Santa Catarina, que, pela precariedade das estradas da época, era a melhor ligação até Porto Alegre, mas ao longo do século XX, com o aparecimento de outros meios de transporte, foi abandonada e hoje a rede quase só serve para passeios turísticos. O curso baixo do Rio Mampituba ainda é praticamente todo navegável, embora sua barra seja instável.
Cultura
Arquitetura e patrimônio histórico
Torres, um dos mais antigos núcleos de povoamento do estado, inicialmente tinha uma arquitetura extremamente pobre, constituída de casebres de barro ou ramos cobertos de palha ou folhas de palmeira. Em seguida começaram a surgir exemplares típicos da arquitetura colonial brasileira, de influência barroca portuguesa, com casas baixas construídas de taipa ou pedra e cobertas com telhas. Quando se iniciou a exploração turística no começo do século XX foram construídos diversos prédios novos, entre hotéis e residências de verão para famílias abastadas de Porto Alegre e do interior do estado, estas muitas vezes de madeira e com requintes decorativos como lambrequins e balaustradas. Porém o mesmo interesse turístico, acompanhado pela especulação imobiliária e pela falta de conscientização patrimonial, fez desaparecer nas décadas mais recentes quase a totalidade dessas construções iniciais, incluindo marcos históricos importantes como o Balneário Picoral, a sede antiga do Hotel Farol e o Hotel Sartori, os primeiros a serem implantados na cidade.
O único monumento histórico/artístico de grande porte a sobreviver na cidade é a Igreja de São Domingos, erguida entre 1819 e 1824, a primeira igreja a ser construída no trecho entre Laguna e Osório. É considerada, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul, que a tombou em 1983, o marco inicial da cidade, que se desenvolveu em seu entorno. Tem um estilo colonial luso-brasileiro, embora tenha sofrido algumas intervenções posteriores em diferentes linguagens arquitetônicas, resultando num conjunto eclético, onde o barroco colonial ainda predomina. Apesar de sua importância, sua manutenção é precária e foi interditada em 2010, quando parte de sua parede lateral desabou.
Contudo, o restauro realizado entre 2010 e 2017 surpreendentemente removeu ou modificou a maior parte dos elementos originais do interior, substituindo-os por elementos modernos, com perda extensa de sua autenticidade e valor como documento histórico e artístico.
Também resistem a "Casa da Terra", datada de 1854, e uma casa pegada à Igreja de São Domingos, chamada Casa nº 1, que recebeu o imperador Dom Pedro I em sua passagem pela cidade. Além disso, só existe um museu na cidade, o Museu Três Torres, que é privado e vinculado à Associação dos Amigos da Praia de Torres (SAPT). A Casa de Cultura age em parte como um, mas sem ter estrutura específica. Estava prevista para 2011 a construção de um museu de ciências naturais no Parque da Guarita, que contaria com aquários, esqueletos de animais marinhos e reproduções dos diferentes ecossistemas da região, além de exibir peças arqueológicas indígenas, mas o projeto ainda não se materializou.
Artes
A principal forma de arte cultivada pelos residentes, de acordo com De Rose, é a música popular, com inúmeros praticantes em várias de suas formas, desde tradicionais a contemporâneas. Podem ser destacados nestas áreas o Grupo de Cultura Popular Kikumbí, premiado em vários festivais do estado, o projeto Quinta na Praça, com música ao vivo em vários estilos apresentada no coreto da Praça XV de Novembro, privilegiando músicos locais e atraindo sempre muitos espectadores, e o grupo Mesa de Bar, que realiza recitais de poesia e de músicas próprias e MPB, excursionando por várias cidades do Rio Grande do Sul com sucesso.
No entanto, o crescimento turístico da cidade levou à consolidação de uma vida cultural e artística mais variada e dinâmica, concentrado, porém, nos meses de verão. A Casa de Cultura de Torres é o mais importante espaço cultural público da cidade, mostrando exposições e apresentações de arte. A SAPT também desenvolve significativa atuação cultural, mantendo em parceria com a Prefeitura o Centro Municipal de Cultura, com auditório para 200 pessoas, um espaço de mostras e organizando espetáculos, cursos e oficinas. Mas também há outros locais, como o Pátio das Artes, com atividades múltiplas, além de hotéis e associações comunitárias também abrirem seus espaços para as artes e o artesanato.
Em toda a cidade são realizados inúmeros espetáculos de teatro, música, cinema, exposições, festivais e shows diversos. A título de exemplo cite-se o festival de teatro Torres na Cena, que graças ao crescente interesse de grupos de São Paulo e Rio de Janeiro vem adquirindo contornos nacionais; a Feira do Livro de Torres, que vem crescendo a cada ano, dá espaço para escritores locais como Hellen Rolim e Cleide Lacerda Alves, e já contou com a participação de nomes importantes como Martha Medeiros, Moacyr Scliar, Mario Pirata e Luís Fernando Veríssimo; o Beach Folia, um dos maiores carnavais do estado; e as várias atrações promovidas pelo SESC, trazendo artistas de fama nacional.
Finalmente, é de lembrar que a paisagem torriense desde o século XIX vem servindo como motivo de inspiração para muitos artistas de fora, que a retrataram em pinturas, desenhos e fotografias, dos quais são importantes entre outros Jean-Baptiste Debret, Herrmann Rudolf Wendroth, Francis Pelichek, Luís Maristany de Trias e Danúbio Gonçalves. Entre os locais, merece nota Nilceomar Munari, há mais de uma década dedicada a pintar a cidade.
Tradições e folclore
Torres compartilha com toda a região do Litoral Norte do estado diversos costumes tradicionais, a começar pelos hábitos típicos da comunidade pesqueira, com suas técnicas e materiais antigos, que ainda sobrevivem principalmente entre os pescadores mais velhos, produzindo artesanalmente suas redes e barcos, mantendo seus conhecimentos e interpretações tradicionais sobre o mar, os fenômenos do clima e os peixes, e preservando uma série de práticas como a de fazer promessas e benzeduras antes de sair à pesca, ou usando amuletos. Ainda vivem também, consolidadas basicamente no século XIX mas de origem última imemorial, práticas de medicina caseira, alimentação, vestuário, formas de linguagem, uso de apelidos, lendas e histórias diversas, como as lendas sobre um tesouro enterrado no Morro das Furnas, sobre a praga lançada por um jesuíta por ter sido maltratado na cidade, e a do "espírito perdido", uma interpretação local do fogo-fátuo.
Nas formas de linguagem podem ser citados o uso de arcaísmos, como dous (dois), pero que (porque), entonce (então), alhur (alhures), pregunta (pergunta) e digues (diga), ou expressões idiomáticas, como fazer boca de bagre (omitir-se), bendito fruto (homem que se intromete em assuntos femininos), mostrar as escamas (revelar-se) e dar a casca (morrer). A medicina caseira encontra expressão no uso terapêutico ou profilático da água benta, de chás de ervas como arruda, mil-homens, guiné, alecrim, poejo, macela e muitas outras, além de benzeduras, orações e encantamentos, tais como a fórmula para resolver engasgamentos: biguá, biguá, sai espinha deste luga(r) que (es)tais, ou aquela invocada para curar icterícia com folhas de laranjeira: Deus te salve, laranjera, que eu não vim ti visitá, vim ti pidi nove foia, pruma visita expodá.
Outros costumes estão ligados aos ritos de passagem, sendo mais conhecidos os tabus que envolvem o nascimento, como o que impede a parturiente de pisar em escama de peixe, e a morte de crianças, quando se usava vesti-las como anjos e levar bandeirinhas ao cemitério para espetá-las na tumba. Outros ritos são a confecção de uma "mesa de inocentes" em pagamento de promessas, oferecendo doces e salgados a sete crianças com menos de oito anos, e o oferecimento de ex-votos feitos de massa de pão. Entre as festas populares se destacam os ternos de Reis, danças como o pau-de-fita e a jardineira, a festa do Boizinho, festas juninas, cantigas de roda, bailes e festas religiosas, sendo a mais concorrida a de Nossa Senhora dos Navegantes, católica, comemorada em conjunto com Iemanjá pelos adeptos das religiões afro-brasileiras. O artesanato é outra forma de manifestação de costumes antigos, havendo em Torres e arredores o cultivo da renda, do bordado, da cestaria, do artesanato com conchas, cipós e bambus para confecção de bolsas, tapetes, bijuterias, adornos para casas e outros objetos. Da mesma forma a culinária local tem pratos tradicionais, predominando os à base de peixe, marisco e siri, que podem ser preparados assados, fritos ou cozidos, geralmente acompanhados de pirão de mandioca, arroz e batatas, ou ainda na forma de moquecas e pastéis. Bebidas populares são a cachaça e o café, e entre os doces são apreciados os de batata-doce, de abóbora e de banana, além da rapadura, do pé-de-moleque e do puxa-puxa. Muitas destas formas de cultura tradicional, porém, como já foi assinalado, estão em vias de rápido desaparecimento diante da massificação da cultura produzida pela explosão do turismo.
Esportes
Pratica-se em Torres uma grande variedade de esportes ao ar livre e indoors, com grande número de equipes, campeonatos e outras provas sendo organizadas durante todo o ano, incluindo beneficentes, mas em especial no verão. A Prefeitura possui uma Gerência para o esporte e se ocupa mantendo infraestruturas, como o Parque Municipal, e programando eventos esportivos. Outras entidades públicas e privadas também participam da vida esportiva local organizando diversos eventos, com destaque para o SESC, que mantém um concorrido Circuito Verão de Esportes, multiesportivo, que na edição de 2011 reuniu cerca de 10.000 atletas de 80 municípios riograndenses nas etapas classificatórias, com as finais previstas para Torres e que devem envolver cerca de 3.000 atletas.
Atraídos pelo sucesso do Festival Internacional de Balonismo, praticantes de outras formas de esporte aéreo estão se interessando pela cidade e, segundo a Prefeitura, Torres está a caminho de se tornar a capital estadual do esporte aéreo, incluindo as modalidades de parapente (com e sem motor), aviação e ultraleve. Graças às suas praias, rios e lagoas, Torres pode explorar muitas atividades esportivas aquáticas, seja competitivas ou recreativas. Uma das mais populares é o surf, com várias provas, entre elas o Brasil Tour de Surf Profissional; a Taça Madeirite, que reune grandes nomes do surfe gaúcho; o Billabong Colegial de Surf, eleito o melhor evento de surf do estado; o Planeta Surf Hang Loose, válido pelo Circuito Estadual de Surf Amador, e o Circuito Interno de Surf.
No futebol se destaca o Campeonato Municipal de Futebol de Campo, onde participam equipes como a S. E. São João, E.C. Mar Azul, S. E. Maracanã, E. C. Boa União e várias outras, jogando nos estádios Riachão, Zelau, Evaldo Santos, Manecão, Comunitário e Estádio do Dragão. A equipe S. E. Torrense foi campeã do Campeonato Gaúcho de Futebol Feminino em 2010. Disputa-se também o Campeonato de Futebol de Salão e o Campeonato Praiano de Futebol, ambos mantidos pela Prefeitura. O vôlei de praia tem sua Copa Vôlei Verão, e destaca-se a dupla Daniel Reis e Samarone, vencedora invicta do Circuito Banrisul de Esportes 2010. O motocross tem a Copa Verão Sobrerodas de Motocross, com 230 pilotos inscritos em 2009; na corrida os atletas disputam o Circuito Torres de Corridas de Rua, uma parceria do Sesc Torres, Ulbra Torres e Prefeitura Municipal, com várias provas distintas, e a Travessia Torres-Tramandaí de Corrida. Vários atletas locais vêm obtendo prêmios e boas posições nestas competições e em outras fora dali, incluindo internacionais, como Claudinei Ribeiro, Sandra Couto e Airton Gaelzer. Além destas citadas, a cidade tem inúmeras outras atrações esportivas em outras modalidades, como taekwondo, rugby, skate, bocha, ciclismo, além de competições de jogos de mesa como canastra de duplas e xadrez.
Feriados
Além dos feriados nacionais 1º de janeiro (Confraternização Universal), 21 de abril (Tiradentes), 1º de maio (Dia do Trabalho), 7 de setembro (Independência do Brasil), 12 de outubro (Nossa Senhora Aparecida), 2 de novembro (Finados), 15 de novembro (Proclamação da República) e 25 de dezembro (Natal) e estadual 20 de setembro (Revolução Farroupilha), Torres celebra feriados municipais nos dias 2 de fevereiro (Nossa Senhora dos Navegantes), 21 de maio (emancipação da cidade), 8 de agosto (São Domingos, padroeiro) e 8 de dezembro (Dia da Justiça, feriado judiciário).
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