segunda-feira, 22 de agosto de 2022

BOM JESUS DA LAPA - BAHIA

Bom Jesus da Lapa é um município brasileiro no interior do estado da Bahia, Região Nordeste do país. Localiza-se a uma distância de 796 km a oeste da capital estadual, Salvador, e 675 km a leste da capital federal, Brasília. Ocupa uma área de aproximadamente 4.115,524 km² e sua população no censo demográfico de 2010 é de 68.609 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, sendo então o trigésimo mais populoso do estado e primeiro de sua microrregião.
História
Da colonização à emancipação

A região à esquerda e direita do Rio São Francisco, no oeste baiano, do qual Bom Jesus da Lapa se localiza, era ocupada por várias populações indígenas, dentre elas os tamoios, cataguás, xacriabás, aricobés, tabajaras, amoipira, tupiná, ocren, sacragrinha e tupinambás.
Os primeiros registros da chegada portuguesa a Bom Jesus da Lapa datam do século XVI, quando Duarte Coelho Pereira, o capitão donatário de Pernambuco, esteve no morro de Bom Jesus da Lapa, em uma expedição exploratória, entre os anos de 1543 a 1550. Em 1553, João III de Portugal determinou que Tomé de Sousa conhecesse as nascentes do São Francisco. Francisco Bruza Espinosa, residente em Porto Seguro, foi o responsável pela expedição que, segundo estudiosos, pode ter chegado até a cidade, um ano e meio após o seu início. No entanto, não houve ocupação permanente no local por lusodescendentes.
A colonização, de fato, ocorreria somente no século seguinte, quando Antônio Guedes de Brito, pecuarista e latifundiário brasileiro, recebeu sesmarias que compreendiam em várias regiões do oeste baiano em agosto de 1663. Esta região, compreendida por municípios como Bom Jesus da Lapa e que se tornou o segundo maior latifúndio do Brasil-colônia, ainda era ocupada por nativos. Guedes de Brito, conhecido pelo desbravamento, foi também reconhecido pela extinção de grande parte desta população utilizando armas. Os indígenas restantes foram escravizados.
Para efetivar sua posse, Brito criou uma bandeira com duzentos homens para fundar fazendas de gado. Muitas grandes propriedades foram criadas, incluindo a Fazenda Morro, também conhecida como Itibiraba, da qual o povoado de Bom Jesus se desenvolveu, mais tarde. Após sua morte, grande parte das posses foram distribuídas a herdeiros e outras regiões foram vendidas. Mas a fazenda Itibiraba permaneceu pelo poder dos Guedes de Brito.
Paralelamente ao processo de colonização, o português Francisco de Mendonça Mar chegou à Bom Jesus da Lapa. Peregrino para uns, andarilho para outros, descobriu um morro à margem direita do Rio São Francisco. Nas redondezas do lugar existiam apenas alguns currais de gado e empregados de Antônio Guedes. Distribuiu os seus bens, fez-se pobre, andou pelo sertão vestido de um grosso burel e carregando uma imagem do Bom Jesus, onde encontrou uma aldeia de índios tapuias. Francisco instalou-se numa gruta na parte interior do morro, onde foi encontrado por garimpeiros. O local virou santuário em 1691.
A cidade começou sua existência à sombra do Santuário do Bom Jesus. Mas, com o tempo, foram agregando-se devotos que resolveram fazer sua moradia perto do lugar, onde se achava a imagem do Bom Jesus. O monge construiu, junto ao santuário, um hospital e um asilo para os pobres e doentes, dos quais cuidava. Assim começou a crescer ao lado da lapa do Bom Jesus um povoado, assumindo o mesmo nome de Bom Jesus da Lapa.
Durante o século XVIII, a região de Bom Jesus da Lapa vivia um crescimento. Parte do território da vila Urubu, atual Paratinga, o então povoado era um dos arraiais mais importantes dali. Por meio do Rio São Francisco, viajantes estabeleciam contatos com outras localidades. Além de Urubu, comércios eram feitos com o arraial de Bom Jardim. Em 1734, a região foi mapeada por Joaquim Quaresma Delgado, um sertanista contratado por colonialistas para percorrer o sertão mineiro e baiano.
Por meio do santuário, também, várias cerimônias de casamento e batizados eram realizados. Vários relatos, entre os anos de 1717 a 1781, referiam-se ao morro de Bom Jesus da Lapa. Moradores de outras localidades, tais como Urubu e Bom Jardim, além de freguesias mais distantes, como São Caetano do Japoré, Santo Antônio da Manga e São Francisco da Barra do Rio Grande do Sul, optavam por realizar batizados no santuário que, por meio de ofertas dos fiéis, mantinham escravos. Em 1750, o arraial era formado por cinquenta casas de barro.
Até o século XIX, Bom Jesus da Lapa permaneceu como parte de Urubu, e sofreu com conflitos de banditismo. Até então juiz de paz respeitado pela região, Antônio José Guimarães tornou-se um cangaceiro por conflitos políticos. Um de seus interesses era ter o controle de Bom Jesus da Lapa e, para isso, formou jagunços e teve, em sua equipe, o padre Francisco Alves Pacheco. Por anos, invadiu localidades como Urubu, Carinhanha e Januária, até ser morto na Província de Goiás em 1854.
Em 1852, Bom Jesus da Lapa recebeu a visita de um grupo de geólogos austríacos, responsáveis por um relatório da região. Naquela época, o arraial de Bom Jesus contava com duzentos e cinquenta habitantes distribuídos em 128 casas. Em 1870, a população cresceu, e contava com 1.400 pessoas em 405 residências. Bom Jesus contava também, naquele ano, com uma delegacia.
Da emancipação aos dias atuais
Graças às constantes peregrinações que se transformaram em grandes e permanentes romarias de fiéis ao Santuário do Senhor Bom Jesus, o povoado foi se desenvolvendo, transformando-se em vila em 18 de setembro de 1890, por meio de um decreto estadual feito por Virgílio Clímaco Damásio, o governador do estado da Bahia naquela época. No mesmo decreto, foi determinada a criação do distrito de Sítio do Mato e Lapa, além da separação de Urubu de Bom Jesus da Lapa. A instalação da nova vila se deu em 7 de janeiro de 1891.
Em 1923, o governador da Bahia em exercício, José Joaquim Seabra, determinou, pelo Decreto nº 1.682, de 31 de agosto, a elevação de Bom Jesus da Lapa à categoria de cidade. Em 1930, mais de 60 mil pessoas visitavam a cidade por ano. Em 1931, o nome da cidade foi mudado para Lapa e, dois anos depois, o distrito de Sítio do Mato é criado. Mas a mudança de nome não durou por muito tempo e, em 22 de junho de 1935, por meio do Decreto Estadual nº 9.571, o nome da cidade volta a ser Bom Jesus da Lapa. Em 1953, foi criado o distrito de Gameleira da Lapa.
Embora a emancipação tenha ocorrido no final do século XIX, até a década de 1960 o município apresentou um crescimento populacional lento. Um dos motivos se deu por conta da pouca integração entre cidades do litoral, como a capital Salvador, com o oeste baiano. A partir desta época, a ocupação se fez mais efetiva em Bom Jesus da Lapa, além de outras cidades, como Santa Maria da Vitória e Barreiras.
É a partir da década de 1980 que Bom Jesus da Lapa passa a receber maior infraestrutura e a condição de transporte dos romeiros também melhora. Na época, o Governo Federal, juntamente com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF), implanta o Projeto Formoso, com o qual pretendia-se aumentar a produção de agricultura.
Em 1990, a Ponte Gercino Coelho é criada. A nova construção favoreceu a ligação do município com a cidade de Brasília e o estado de Goiás, por meio da BR-242. A ponte faz intersecção entre as rodovias federais BR-349 e BR-430. No mesmo contexto surge a BA-160, que liga Lapa à Paratinga.
Em 1991, o santuário completou 300 anos de fundação e, a partir desta data, o fluxo turístico de Bom Jesus da Lapa aumentou. A rede hoteleira do município aumentou, enquanto, a partir de 2007, as cerimônias religiosas passaram a ser transmitidas por emissoras de televisão. A agricultura irrigada, por meio do Projeto Formoso, fez o município se tornar um dos principais produtores de frutos do país, como a banana. A mancha urbana da cidade cresceu em relação à população que vivia na zona rural, enquanto o mercado imobiliário sofreu um crescimento de 500%. Em contrapartida, o crescimento urbano desordenado gerou um aumento da pobreza.
Geografia
O relevo do município, com altitude máxima de quatrocentos e oitenta e três metros, é constituído por Pediplano Sertanejo, característico da região de semiárido baiano e de Depressão Sertaneja-São Francisco. Geomorfologicamente, predominam formas de depósitos aluvionares, coluvionares e depósitos fluviais.
À margem direita do São Francisco, localiza-se o morro da Lapa, formado por um bloco de granito e calcário com quinze grutas em seu interior e fendas estreitas. O território do município é quase todo plano, surgindo, de vez em quando, no meio das planícies ou tabuleiros alguns montes, de feições típicas. O Rio São Francisco é o principal curso de água de Bom Jesus da Lapa, cujo território, em 70 km é percorrido pelo rio. Além do São Francisco, o Rio Corrente, o Rio das Rãs e o Santana perpassam a região e são afluentes diretos. Os riachos da Pedra Branca, e da Santa Rita são outros cursos d'água que banham a Lapa, além de várias lagoas, das quais destacam-se Piranhas, Lapa, Campos, Batalha, Moita e a Itaberaba. O município também conta com quatro ilhas: Ilha do Medo, Ilha da Cana Brava, Ilha do Fogo e a Ilha da Mariquinha no rio São Francisco, de jurisdição municipal.
O abastecimento de água é feito pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Bom Jesus da Lapa (SAAE), da prefeitura da cidade Além disso, o município abriga uma unidade da Capitania Fluvial do São Francisco, administrado pela Agência Fluvial de Bom Jesus da Lapa e que abrange várias cidades baianas. Bom Jesus da Lapa faz parte do polígono das secas desde a criação do decreto-lei que delimitou a região em 1936, ao passo que o desmatamento do bioma na região, entre 2009 e 2010, atingiu a taxa de 0,05% do território que compreende o município. Temporadas de estiagem são comuns na região. No entanto, nos últimos anos, a cidade tem sofrido com a seca cada vez mais frequente. Em 2014, o município declarou situação de emergência. No ano seguinte, Bom Jesus da Lapa enfrentou sua pior seca em cem anos.
Clima
O clima lapense é caracterizado, segundo o IBGE, como sub úmido seco semiárido[38] (tipo BSh segundo Köppen), com temperatura média compensada anual de 25 °C e pluviosidade média de 800 mm/ano, concentrados entre os meses de novembro e março, sendo dezembro o mês de maior precipitação. Julho é o mês mais seco, com precipitação nula, e ao mesmo tempo o mais ameno, com mínimas caindo para 17 °C ou até menos. O mês mais quente é outubro, com máximas chegando aos 35 °C. Outono e primavera são estações de transição. Nos meses de inverno, época mais seca do ano, a umidade relativa do ar cai para níveis críticos, podendo ficar em nível de alerta, abaixo dos 20%.
O maior acumulado de precipitação em 24 horas foi de 180,6 mm em 15 de dezembro de 2000. Outros grandes acumulados iguais ou superiores a 100 mm foram: 137 mm em 3 de dezembro de 2011, 102,7 mm em 2 de fevereiro de 1979, 101,4 mm em 18 de janeiro de 2004 e 100,8 mm em 4 de dezembro de 1988. O índice mais baixo de umidade relativa do ar ocorreu nas tardes dos dias 7 de outubro de 1969, 15 de setembro de 1973 e 23 de julho de 1980, de apenas 11%.
Economia
Como uma cidade que teve sua história diretamente relacionada ao catolicismo, uma das principais fontes de renda do município é o turismo religioso. Estima-se que, a cada ano, Bom Jesus da Lapa receba dois milhões de pessoas, cujo interesse principal é de participar da romaria e visitar o Santuário do Bom Jesus da Lapa.
O município também se destaca na agricultura irrigada. O Projeto Formoso, que é de grande importância para a agricultura e umas da principais fontes de emprego e renda para as cidades de Bom Jesus da Lapa, Serra do Ramalho e Sítio do Mato, é um perímetro com infraestrutura direcionada para a agricultura irrigada formado por dois setores, Formoso A e Formoso H, constando de duas estações de bombeamento principal, 29 estações de bombeamento secundárias, 82,72 km de canais de concreto a céu aberto, 288,82 quilômetros de estradas e 119,89 quilômetros de drenos. São cerca de 1 165 lotes irrigados em uma área de 12 mil hectares.
Educação
Bom Jesus da Lapa dispõe de alguns campi de universidades públicas, como Universidade do Estado da Bahia (UNEB); a Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB); o Instituto Federal Baiano (IF Baiano). O município também dispõe de algumas universidades privadas de ensino à distância como a Universidade do Norte do Paraná (UNOPAR), Universidade Aberta do Brasil, Universidade Paulista (UNIP), entre outras.
Cultura
Bom Jesus da Lapa conta com vários pontos de apelo turístico. O principal deles é o Santuário do Bom Jesus da Lapa que atrai, por ano, cerca de 2 milhões de pessoas e torna a romaria que ocorre na cidade a terceira maior do Brasil. A romaria do Bom Jesus e a romaria de Nossa Senhora da Soledade são as principais romarias de Bom Jesus da Lapa. Além da gruta principal, o Morro de Bom Jesus da Lapa conta com outras quinze grutas que podem ser visitadas. Além disso, também ocorrem práticas de rapel no morro. Outros pontos são a prainha de Bom Jesus da Lapa, às margens do São Francisco; o Mercado Municipal de Bom Jesus da Lapa, com produtos alimentícios; Barrinha, com comidas típicas; o Teatro Municipal Professora Ivonildes de Melo; a Casa de Cultura Professor Antonio Barbosa que abriga a Biblioteca Municipal Eleonor Magalhães Cezar; o Museu do Santuário; o Abrigo dos Pobres, a Catedral de Nossa Senhora do Carmo, a Praça da Fé, a Praça do Largo da Esplanada e a Praça Monsenhor Turíbio Vila Nova. O município conta com mais de onze mil leitos distribuídos em pousadas, dormitórios, hotéis e estabelecimentos do gênero.
Outras manifestações culturais encontradas em Bom Jesus da Lapa são a Folia de Reis que abriga, também, comidas típicas e a Festa do Divino Espírito Santo, que ocorre cinquenta dias após a comemoração da páscoa. Um grupo musical tradicional da cidade é a Caretagem, existente há mais de setenta anos e conta com instrumentos percussivos, máscaras e fantasias.
A cidade é terra natal de alguns artistas que obtiveram relevância regional, nacional ou mesmo internacional, tais como o cantor e compositor Carlos Villela, a escritora Állex Leilla, o atleta olímpico Eronilde Araújo, e o futebolista Hernane Vidal de Souza.
A culinária lapense é encontrada em vários restaurantes e tem, como prato típico, a moqueca de peixe, preparada em tigelas de barro. No município também está a Casa da Cultura de Bom Jesus da Lapa. Fundada a partir de um casarão datado de 1916, o espaço conta com a biblioteca pública Leonor Magalhães Cézar e a academia de letras da cidade. O prédio foi reformado pela prefeitura de Bom Jesus da Lapa em 2016.
Bom Jesus da Lapa contém um campeonato de futebol amador e também conta com uma seleção que disputa o Campeonato Baiano Intermunicipal de Futebol. Além disso, a cidade possui o estádio Benjamin Farah, com capacidade para quatro mil pessoas.
Referência para o texto: Wikipédia .