segunda-feira, 23 de outubro de 2023

CANGUÇU - RIO GRANDE DO SUL

Canguçu é um município brasileiro do estado do Rio Grande do Sul, considerado o município com o maior número de minifúndios no Brasil, possuindo cerca de 14 mil propriedades rurais, sendo reconhecida assim, como a Capital Nacional da Agricultura Familiar. O município tem uma população de 49.680 habitantes, segundo o Censo de 2022.
Etimologia
A denominação de Canguçu deriva da palavra indígena Caa-guaçu, significando mata grande ou mato grosso.
Caa-guaçu era uma alusão à milenar mata grande que encobriu primitivamente a encosta da Serra dos Tapes voltada para a lagoa dos Patos, e que daria o nome a ilha de Canguçu, mais tarde chamada de ilha da Feitoria como parte da estância Feitoria depois de adquirida por esta. Apesar disso, muitas fontes regionais apontam para a origem do nome do município como a derivação da palavra indigena acaanguaçu, nome dado pelos indios a uma pequena onça que habitava aquela região.
História
Os primitivos habitantes de Canguçu foram os índios tapes, tapuias, guaranizados e subordinados aos guaranis, e que deram seu nome a região onde Canguçu se assenta. Vestígios deles ainda são encontrados nos traços de habitantes do Posto Branco, Canguçu Velho e Herval.
O povoamento da região onde hoje está a sede do município deu-se por volta de 1763. Os povoadores iniciais de Canguçu foram guerrilheiros das tropas de Rafael Pinto Bandeira, bem como deslocados portugueses de Colônia do Sacramento que passou definitivamente ao domínio de Espanha, após quase um século de acirrada disputa diplomática e militar com Portugal e açorianos e descendentes mandados vir em migração oficial para povoarem os Sete Povos das Missões e que, com a guerra, permaneceram nas regiões litorâneas de Mostardas, Estreito, São José do Norte e em Povo Novo e no vale do Jacuí. A área urbana de Canguçu, no período de 1780 a 1799, foi denominada Rincão do Tamanduá, fazendo parte de uma área maior, de mais de doze léguas de sesmarias, situado nas Serras do Sudeste, sendo proprietário o nobre português capitão-mor Dom Paulo Rodrigues Xavier Prates.
Canguçu foi caminho entre Rio Grande e Rio Pardo, as duas primeiras bases militares portuguesas existentes no Rio Grande do Sul. A localidade de Coxilha do Fogo, no terceiro distrito, e a sede do Município, foram bases de guerrilhas de Portugal, ao comando do mais tarde Brigadeiro Rafael Pinto Bandeira, no período de 1763 a 1766, durante a dominação espanhola da Vila de Rio Grande e do Forte Santa Tecla.
O restante da zona rural do município foi sendo povoado só a partir de meados de 1850, sendo algumas regiões permanecendo virgens ao contato humano até a década de 1920. A Comissão de Demarcação de Limites do Tratado de Santo Ildefonso de 1777,pelo qual Canguçu foi fronteira de fato entre Portugal e Espanha por cerca de 24 anos, de 1777-1801, percorreu até 1784 as vertentes do rio Piratini e as encontrou bastante povoadas e, no espaço em branco hoje ocupado por Canguçu registrou em mapa o Cerro Partido, acidente geográfico característico de Canguçu que mergulha nas nascentes do arroio Pantanoso, no local conhecido como Banho do João Paulo Duarte.
De 1762 a 1777 ocorreram violentos choques entre espanhóis e portugueses, visando ambos o domínio de que hoje constitui o Rio Grande do Sul e a República Oriental do Uruguai. Praticamente cessou a instituição de novos povoados, preferindo os que para o sul vinham, estabelecer-se nos núcleos anteriores, e destes, em especial nos mais resguardados de investidas castelhanas.
Após o término dessas lutas, foram concedidas sesmarias para a região onde hoje está constituído o município de Canguçu. Por volta de 1793, os sesmeiros Paulo Rodrigues Xavier de Prates e João Francisco Teixeira de Oliveira, que até então viviam disputando a posse do "Rincão do Tamanduá", e visando solucionar o litígio, doaram o sítio para a construção de uma capela. A 26 de dezembro de 1799, cento e quarenta moradores da região dirigiram ao governador Sebastião Xavier da Veiga Cabral da Câmara, uma petição requerendo a concessão do rincão para erigir a capela e fundar a povoação. A 30 do mesmo mês e ano era a permissão concedida, com a ressalva de que enquanto não se formasse uma irmandade legalmente constituída, coubesse ao cura e a dois homens bons do lugar a administração dos ditos terrenos.
Seguindo este critério, seis dias após a petição, ou seja, a 10 de janeiro de 1800, era lançada a pedra fundamental da capela de Nossa Senhora da Conceição, sendo seu primeiro cura o padre Pedro Rodrigues Tourem.
Ergueram-se as casas quase que imediatamente, e logo florescia uma povoação de tamanho considerável e bem organizada. Tais foram os méritos, que a capela curada era em doze anos levada à categoria de freguesia. Tal se deu por carta régia do príncipe regente D. João, assinada a 31 de janeiro de 1812, sendo a décima sétima freguesia da Capitania de São Pedro. Havia então, no Rio Grande do Sul, apenas quatro municípios, sendo que a freguesia de Canguçu fazia parte de Rio Grande, passando somente em 1830 ao de Piratini, do que se constituiu distrito. O desenvolvimento da povoação foi tão louvado, que mereceu a visita do bispo do Rio de Janeiro dom José Caetano da Silva Coutinho de 25 a 27 de novembro de 1815.
A proveniência das famílias que de 1800 a 1812 deram origem a povoação, conforme os registros de batismos e casamentos paroquiais do bispado, são: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná (à época pertencente à São Paulo), Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, além do reino de Portugal, ilhas, dentre elas Açores, Uruguai, Argentina e Paraguai.
A atividade predominante por essa época era a pecuária, muito embora se notasse o crescente surto agrícola, então em fase inicial.
Chegariam depois os anos da Revolução Farroupilha, e o solo de Canguçu seria cruzado muitas vezes por tropas tanto imperiais como revolucionárias. Nesta revolução os canguçuenses tiveram grande participação e projeção, pois as tropas que integraram a Brigada Liberal de Antônio de Sousa Neto, que o apoiaram em 10 de setembro de 1836 no vitorioso combate do Seival e, no outro dia na proclamação da República Rio-Grandense, era constituída por canguçuenses na proporção de cerca de ¼.
Ao ser instalada a República Rio-Grandense em Piratini, em 6 de novembro de 1836, quem carregou o pavilhão tricolor pela primeira vez foi o canguçuense major de lanceiros Joaquim Teixeira Nunes – o Coronel Gavião, considerado pelo general Tasso Fragoso como "a maior lança farrapa", e que se tornou célebre no comando do Corpo de Lanceiros Negros Farroupilhas, personagem abordado com grandeza e simpatia na minissérie A Casa das Sete Mulheres pelo ator Douglas Simon.
Somente em 1843, ou seja, oito anos após iniciada as hostilidades, trava-se um combate em suas terras. A 2 de outubro, na localidade de Coxilha do Fogo, uma luta violenta é encetada, entre farrapos e imperiais. Da parte dos legalistas, comandando 250 caçadores, estava Francisco Félix da Fonseca Pereira Pinto junto com 60 homens do esquadrão de cavalaria da Guarda Nacional sob comando de Francisco Pedro Buarque de Abreu, o Chico Pedro. Não obstante os imperiais estarem em menor força, logram desfazer uma coluna farroupilha de 400 homens, comandada por Bento Gonçalves e Antônio de Sousa Neto, capturando muitas armas, cavalos e estandartes. e perseguem os revolucionários até a povoação da sede, em cujas proximidades surpreende, com seus 310 homens, os 300 de Antônio de Souza Neto, que não podendo oferecer resistência, retira-se em 26 de outubro de 1843.
No segundo combate, em 6 de novembro, os rebeldes voltam à Canguçu, e Chico Pedro com 300 soldados do 8º Batalhão, junto com a cavalaria da Guarda Nacional, com invulgar heroísmo, resistem ao ataque de Bento Gonçalves, Antônio Neto e Camilo dos Santos Campelo com 600 homens, até a aproximação de reforços, ante os quais retiram-se os farrapos.
Os combates de 25, 26 de outubro e 6 de novembro de 1843, deram-se nas localidades de Pedra das Mentiras e Cerro do Ataque, nos fundos do atual Colégio Franciscano Nossa Senhora Aparecida, em ambas as margens do arroio.
Foi em Canguçu que o maior cronista farrapo – Manuel Alves da Silva Caldeira, veterano farrapo, escreveu cartas-depoimentos aos historiadores Alfredo Varela, Alfredo Ferreira Rodrigues, Alcides Lima e a Piratinino de Almeida, que lhes permitiram resgatar expressivamente a memória do Decênio Heróico.
A vila de Canguçu, em momentos difíceis da revolução, abrigou por diversas vezes Bento Gonçalves até agosto de 1843, conforme se concluiu de ofício do Barão de Caxias ao ministro da Guerra.
Isto até que Canguçu fosse ocupado pela ala esquerda do Exército ao comando de Caxias, de setembro de 1843 em diante. Comandou a referida ala esquerda o célebre guerrilheiro Francisco Pedro Buarque de Abreu, o futuro Barão de Jacuí.
Finda a guerra civil, novos dias viriam para a freguesia, que em 1848 teria criada uma aula para meninas, sendo assim atendida uma reivindicação dos dias de luta .
A Lei Provincial nº 340, de 28 de janeiro de 1857, criou o município de Cangussu, (hoje grafado Canguçu) elevando o povoado à vila, e anexando os distritos que constituíam a freguesia de Nossa Senhora do Rosário do Cerrito, com o que decairia o povoado de mesmo nome. A 27 de junho do mesmo ano era instalado o município. A primeira Câmara foi constituída pelos vereadores José Joaquim Rodrigues Soares, Manoel Carvalho de Abreu, Domingos José Borges, Antônio Joaquim Caldeira, Ignácio Francisco Duarte, e Manoel de Jesus Vasques. Ainda no mesmo ano foi criada a primeira aula para meninos, assim como os ofícios de Escrivão Geral, Tabelião de Notas, Escrivão de Órfãos, Contador e Partidor do Juiz, Coletorias das Rendas Gerais e das Rendas da Província e Agência de Correio.
Canguçu, antes distrito da capital farroupilha Piratini, foi o 22º município gaúcho a ser criado, por desmembramento do município de Piratini, do qual foi o distrito de 1831 a 1857. Em ata da sessão de 1857, assinada pelo líder farrapo Vicente Ferrer de Almeida, deu-se a emancipação. Canguçu foi criado município junto com Passo Fundo por sugestão do simbolista farrapo major Bernardo Pires, autor do desenho da bandeira da República Rio-Grandense e, desde 1891, adotada como a bandeira do Rio Grande do Sul.
Desde cinco anos antes da criação de Canguçu, seus filhos já eram batizados na pia batismal construída em 1851 pelo francês Marcelino Tolosan (Marcellin Tholozan), seis anos depois da pacificação farroupilha.
Em 1858 era nomeado o primeiro delegado de Polícia; em 1866 foi nomeado o primeiro Juiz Municipal; em 1878, instalada Agência do Telégrafo Nacional. Passaram-se os anos, e com eles desenvolvia-se o município, inclinando-se fortemente para a agricultura. Seus cidadãos de maior porte mostraram-se favoráveis à emancipação dos escravos e à República. A 2 de abril de 1888 o município é declarado livre, isto é, são libertados todos os escravos. Vinda a República, o primeiro intendente sob o novo regime seria Bernardino da Silva Motta.
De 1893 a 1895 o Rio Grande do Sul seria teatro de lamentável luta fratricida, a Revolução Federalista que no entanto não se abateu sobre as terras de Canguçu, que teve a sorte de não ser teatro de operações, muito embora centenas de canguçuenses tombarem em batalha, por tomarem parte do conflito. Nesta época a Vila de Canguçu possuía 1.600 habitantes e 194 casas, e no interior.
Muitos filhos de Canguçu foram cruelmente degolados num dos episódios mais sombrios da história gaúcha. O clima de ódio fratricida permaneceria por muitos anos, vindo novamente a eclodir na Revolução de 1923. Além do mais, as consequências da Revolução foram devastadoras para a união das famílias, a propriedade, economia, a sociedade, a política e a religião católica no município. A Igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição, ricamente restaurada pelo monarquista Chico Pedro, em 1843, foi profanada, e os livros extraviados, conforme assinalou seu pároco em 1908. A historiadora canguçuense Marlene Barbosa Coelho, ao escrever sobre esta luta, desabafou: "Revolução que se caracterizou por atos repulsivos de sanguinarismo selvagem... Ela nasceu de ressentimentos entre homens que na disputa do poder no Estado, haviam recebido recíprocos agravos".
Pelo Decreto nº 1.521, em 1909, voltou Canguçu a ser sede de comarca - era com esse documento resolvido um velho problema, que tivera duas fases anteriores; pelo Ato nº 249, de 12 de junho de 1890, tinha já sido elevada à sede de comarca, mas, pelo Decreto nº 37, de 31 de dezembro de 1892, a mesma tinha sido transferida para Piratini. Em 1909 a situação resolvia-se de forma definitiva.
Em 1916 era instalado o serviço telefônico na vila. Ao iniciar-se o século XX, o município, que tinha parte considerável de terras ainda não aproveitadas, recebe contingentes de colonos - chegam imigrantes alemães da Pomerânia, que se instalam em duas colônias distintas, em 1906 e em 1912; surgem, também por essa época, elementos italianos, que se vieram reunir a outros estabelecidos anteriormente.
Em 1923, na Revolução de 1923 e em 1932, quando do levante, conhecido como Revolução Constitucionalista de 1932 em diversos pontos do Estado, contra o então presidente, Dr. Antônio Augusto Borges de Medeiros, foi Canguçu nova e profundamente atingido pelas lutas e paixões fratricidas dos combatentes. A figura de maior destaque, sem dúvida, foi José Antônio Matos Neto, conhecido por Zeca Neto, sobrinho de Antônio de Souza Neto, farrapo de 1835. Zeca Neto, também revolucionário, adotou a tática de movimentos rápidos e inesperados, ocupando uma localidade, abatendo ou abalando o moral do adversário, para logo retirar-se ordenadamente. A 15 de março de 1923, Neto ocupa a vila. A 19 de abril nela penetra novamente. A 23 de abril o tenente-coronel legalista Francelísio Meireles, após combates no passo do Pantanoso e na Coxilha do Fogo, entra na vila. A 7 de agosto Zeca ocupa a vila, retira-se, retornando a 17 do mesmo mês; no dia seguinte, no Cerro Partido, Neto combate com os governistas sob o mando de Francelísio, abatendo-os, após oito horas de luta. Reagrupam-se as forças estaduais e ocupam a vila no dia 19, estando esta já abandonada pelos rebeldes. A 14 de agosto, Neto, tentando socorrer o major Adolfo Brockmann, trava nas terras do município demorado combate com os legais, sob o mando dos coronéis Alfredo Nunes Garcia e Hipólito Ribeiro. A 15 de outubro a vila é novamente ocupada pelos rebeldes, desta vez a mando de Brockmann. No mesmo ano era pacificado o Estado, sem vinditas.
A partir de 1932 não mais conheceu Canguçu dias de luta armada. Em 1934 era inaugurado o serviço de luz elétrica na vila, mas a eletrificação rural só alcançou a população mais abastada na década de 80 e os pobres precisamente na década de 2000 com o programa Luz para Todos; e, pelo Decreto-Lei nº 311, de 2 de março de 1938, eram concedidos a Canguçu foros de cidade. Na década de 1950 Canguçu produzia mais de 20 mil toneladas de batata-inglesa, de milho e de trigo, e mais de mil de arroz.
Geografia
Canguçu está incrustado na Serra dos Tapes a qual forma junto com a Serra do Herval a região fisiográfica gaúcha Serras do Sudeste, serras divididas pelo rio Camaquã, que limita ao norte o município e que se constituem dos solos mais antigos do estado, como parte do Escudo Rio-Grandense, de formação no Período Arqueano. É em Canguçu que nascem os arroios do Quilombo e das Caneleiras, que no município vizinho, Pelotas, juntam-se e recebem o nome de arroio Pelotas.
Clima
Segundo dados da estação meteorológica automática do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) no município, em operação desde janeiro de 2007, a menor temperatura registrada em Canguçu foi de −2,5 °C em 11 de julho de 2007 e a maior atingiu 38,4 °C em 14 de março de 2020, superando os 38 °C de máxima em 27 de dezembro de 2013. Em 24 horas o maior acumulado de precipitação chegou a 100,8 milímetros (mm) em 25 de abril de 2016. A maior rajada de vento foi registrada em 17 de outubro de 2018, chegando a 37,1 m/s (133,6 km/h).
Língua regional
Além da língua portuguesa, há muitos habitantes que utilizam a língua pomerana no município. Esta língua minoritária se constitui em um legado cultural que faz parte intrínseca do histórico desta comunidade, e de outras comunidades da região de similar perfil, que resultaram de processos migratórios promovidos pelo Estado durante o período imperial.
Infraestrutura
Educação

A Escola Técnica Estadual Canguçu (ETEC), antigo CONTADOR, é uma instituição estadual que, além do curso médio regular, disponibiliza dos cursos técnicos em Agricultura e Contabilidade.
O município conta com extensões universitárias e polos universitários de diversas universidades, quais sejam, a Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, o Centro Universitário Leonardo Da Vinci - UNIASSELVI, a Universidade Anhanguera, e por último a Universidade Franciscana (a partir de novembro de 2018[25]), oferecendo inúmeros cursos de educação à distância tanto bacharelado, quanto tecnólogo e licenciatura.
Referência para o texto: Wikipédia ; IBGE .